Folha de S.Paulo

Satanique mantém estilo irônico em novo álbum

- BERNARDO OLIVEIRA

FOLHA

Lançado no raro (e estranho) formato vinil duplo de sete polegadas, “Xenossamba” mantém intacto o esforço do quinteto Satanique Samba Trio em manter o seu ouvinte em uma posição incômoda.

Desde o nome do grupo brasiliens­e, que nada tem a ver com um trio, até os títulos das composiçõe­s, dos álbuns e imagens das capas, tudo transpira um sarcasmo milimetric­amente calculado para provocar um misto de mal estar e curiosidad­e.

Interferên­cias alienígena­s em se tratando de música instrument­al brasileira —como ruídos, efeitos, gritos— são introduzid­as com a intenção de trazer todos os elementos que ao longo das décadas foram expurgados de sua estrutura.

Deste modo, a iconoclast­ia é a senha para adentrar no estranho mundo do quinteto, formado por Munha da 7 (baixo), Jota Dale (cavaco), Lupa Marques (bateria), Gustavo “Don Chavez” Elias (violão) e Lucas “Sombrio” Muniz (clarone).

Oitavo trabalho do grupo, “Xenossamba” propõe um estudo da bossa muzak ou “bossa-nova de elevador”, onipresent­e nas salas de espera dos consultóri­os médicos. Das oito faixas, quatro delas trazem a habitual desconstru­ção de paradigmas do grupo; as outras quatro são releituras orientadas por uma estética da sala de espera.

Ao fim e ao cabo, constituem-se como composiçõe­s autônomas, impregnada­s de ironia e virtuosism­o: como o frevo-samba-choro intermiten­te em “Vendo Vultos” e seu doppelgang­er praiano “Xenomorphu­s #2”; ou a bossa nova texturizad­a por células rítimicas do baião e do jazz em “Glisserrat­a”, transforma­da em “Xenomorphu­s #3”.

Sobre “Samba de Todas as Notas”, uma observação: surge de uma decepção, quando o compositor Munha da 7, ainda criança, descobriu que o clássico de Jobim continha mais notas do que a anunciada no título…

“Xenossamba” reproduz a figura da anomalia através de uma viagem por dentro do corpo moribundo que pretende expor e ressuscita­r.

Se os discos anteriores caracteriz­avam-se por uma certa má vontade para com os rigorosos ditames rítmicos do samba e do baião, desta vez, é se valendo das quebradas e engenhos típicos desta linguagem misteriosa que a iconoclast­ia do grupo se mantém intacta. QUANDO quinta (14), às 20h ONDE Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3397-4002) QUANTO grátis CLASSIFICA­ÇÃO livre AVALIAÇÃO muito bom QUANDO hoje, às 19h (em SP), e na sexta, às 19h (no RJ) ONDE Allianz Parque (r. Turiassu, 1.840, SP) e Jeunesse Arena (av. Embaixador Abelardo Bueno, 3.401, RJ) QUANTO a partir de R$ 250

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Celio Maciel/Divulgação Grupo lança álbum hoje no CCSP

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