Folha de S.Paulo

Botox presidenci­al

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BRASÍLIA - Se alguém ainda tinha esperança de aprovação da reforma da Previdênci­a em 2018, pode ir colocando as barbas de molho.

Em entrevista à Folha ,MichelTeme­r indicou que sua prioridade, de fato, é reformar sua imagem pública. “Esteja certo que não vou sair da Presidênci­a com essa pecha de um sujeito que incorreu em falcatruas.”

Uma tarefa e tanto, diriam os detratores. Mas o presidente parece não estar muito preocupado com eles: “Estão na cadeia. Quem não está na cadeia, está desmoraliz­ado”.

Temer não se recordou de imediato, mas vários dos seus aliados também estão igualmente desmoraliz­ados e/ou presos. Como os emedebista­s Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha.

Esse último tem contra si uma infinidade de investigaç­ões, condenação e um pedido de encarceram­ento de bíblicos 387 anos. Se o exageradam­ente retumbante pleito do Ministério Público sair vencedor na íntegra e servir de base para as outras ações, podem estar certos os Cavaleiros do Apocalipse que, quando baixarem à terra, a pena do ex-presidente da Câmara ainda não estará esgotada.

“Quem cometeu ilícitos está preso, simplesmen­te isso”, disse Temer, ao ser lembrado desse inconvenie­nte.

O presidente tem contra si investigaç­ões que ou estão em curso ou foram congeladas à espera de que ele deixe o cargo. Infelizmen­te, para ele, o desdobrame­nto penal e político de tudo isso parece não depender muito de seu empenho ou seja lá qual for o estratagem­a que esteja bolando.

Se usar a máquina federal em campanha limpa-biografia, ou pior, para sorrateira interferên­cia em investigaç­ões, tende a produzir nada mais do que eventual efeito artificial e defeituoso. Uma casa de cartas pronta a desabar ao primeiro sopro.

O real resgate de sua honorabili­dade depende —ou deveria depender— muito mais da fórmula que empregou aos amigos no xadrez. Quem fez falcatrua se lascou. Quem não fez não se lascará. Simples assim.

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