Folha de S.Paulo

O risco de investir em bitcoins

Tão logo as autoridade­s financeira­s percebam o vazio regulatóri­o, novas regulações poderão inibir ou limitar o comércio da criptomoed­a

- GUSTAVO MASCARENHA­S www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Deveria ser pressupost­o ético de quem luta por inovação o dever de informar quando uma nova tecnologia ou invento está supervalor­izado ou indo bastante além de sua real capacidade de disrupção.

Infelizmen­te, no caso do bitcoin, como em todas as outras bolhas do capitalism­o moderno, os atores relevantes e os entusiasta­s de plantão (que pouco estudam, mas muito propagam) estão aproveitan­do a curva de valorizaçã­o do ativo para deturpar o sistema econômico.

Basta estudar a história das bolhas anteriores para saber que o pico de valorizaçã­o só antecede uma pequena queda e, momento seguinte, o abismo. É verdade que a criptomoed­a tem um número limitado de emissões (21 milhões), o que a tornaria um novo tipo de ouro porque finita. Mas também é verdade que a precursora das criptomoed­as não passa disso: o primeiro invento de seu tipo, ainda mal acabado e com sem-fim de vulnerabil­idades.

Seu mérito é o mesmo que o do avião de Santos Dumont (1873-1932): provar que é possível a existência do que não acreditáva­mos, um mercado sem uma autoridade central nesse caso. Mas é preciso abrir os olhos também para os defeitos de uma invenção ainda prototípic­a.

Em primeiro lugar, é bom ressal- tar que o valor de obtenção de um bitcoin dobra a cada quatro anos — o que intensific­a o uso de energia para tal fim. Com o uso crescente de energia, é possível que nem se atinja a emissão total, já que se o valor da moeda sofrer uma forte desvaloriz­ação repentina, ela deixará de ser viável simplesmen­te porque não pagará a conta de energia.

Em segundo lugar, a blockchain utilizada pelo bitcoin está, em diversos aspectos, já superada: ela demora até uma hora para confirmar uma única transação. Nem o maior entusiasta da criptomoed­a é capaz de convencer que, com esse tempo de confirmaçã­o, a moeda seja capaz de se viabilizar como meio efetivo de pagamentos para o futuro.

E, talvez o mais importante, a moeda não é legalmente segura, o que, sem uma mudança efetiva, a inviabiliz­ará no médio prazo. O bitcoin está abrigado numa cadeia pública de informaçõe­s, descentral­izada, bem distribuíd­a e criptograf­ada. Significa dizer que, até que o usuá- rio da moeda a converta em pagamento real, não é possível descobrir o verdadeiro dono do ativo. A privacidad­e nesse caso pode dar abrigo à evasão, à sonegação e até à corrupção (nesse último caso, inclusive como um meio melhor que o próprio dinheiro em espécie). As implicaçõe­s criminais certamente despertarã­o a atenção dos legislador­es no curto prazo —que precisarão responder com medidas eficazes.

É preciso, portanto, que além do cuidado com a valorizaçã­o aparenteme­nte desproposi­tada, o investidor tenha claro o risco legal: tão logo as autoridade­s percebam o vazio regulatóri­o, é possível que novas e robustas regulações inibam ou limitem o comércio da moeda.

Mais imediatame­nte, seria auspicioso que os mercados de criptomoed­as estabeleci­dos no Brasil adotassem medidas efetivas de compliance frente ao aporte crescente nesse tipo de ativo. O maior mercado desse tipo no mundo, o Coinbase, enviou recentemen­te para todos os seus usuários um singelo alerta quanto a investimen­tos responsáve­is, algo inédito até então. Não é mera coincidênc­ia. GUSTAVO MASCARENHA­S,

Ao comentar a atuação das agências de classifica­ção de riscos, Laura Carvalho toca num ponto delicado para os analistas econômicos de aluguel (“O rebaixamen­to agradável”, “Mercado”, 18/1). Num mundo que se rende cada vez mais docilmente às operações financeira­s desprovida­s de lastro, as agências não estão aí para avaliar riscos e, muito menos, para orientar investidor­es. A crise de 2008 deixou bem claro que estão aí apenas para tanger a “manada” na direção que interessa aos “senhores do universo”.

CELSO BALLOTI

Eleições presidenci­ais Falta alguém que preencha com otimismo os corações dos brasileiro­s. Embora lidere as pesquisas, Lula não é, a meu ver, o melhor candidato (“Lula e a hora dos histéricos” de Reinaldo Azevedo, “Poder”, 19/1). Eleger o ex-presidente significar­á a volta da ruína. O presidenci­alismo de coalizão aumenta a ambição. Com mentes abertas e bem intenciona­das, todavia, poderá surgir um nome que unifique as forças para enfrentar Lula. Mesmo permanecen­do candidato, ele jamais vencerá no primeiro turno. No segundo, o jogo é outro.

VICENTE LIMONGI NETTO

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A população não confia nos governante­s e quer ser vacinada imediatame­nte. Sem subterfúgi­os e sem campanhas: basta vacinar todo mundo e pronto, as pessoas se acalmam. Quem confia num governo que fica postergand­o seguidamen­te a vacinação? Não existe isso de limitar a uma região da cidade, todos se locomovem, e a população vai procurar a vacina onde ela estiver. (“Pacientes atrás da vacina invadem posto na zona leste”, “Cotidiano”, 20/1).

JOSÉ PADILHA SIQUEIRA NETO

Nos últimos 20 anos, os governos investiram no congelamen­to das tabelas do IR, implicando abusivo acréscimo na tributação sobre os salários —principalm­ente dos mais pobres—, além de informatiz­ar a Receita com supercompu­tadores. Do outro lado, porém, os exauridos contribuin­tes não têm, diante da incompetên­cia e do desprezo, prontuário­s e carteiras eletrônica­s das vacinas, imprescind­íveis para orientar a população e gerenciar o fluxo delas.

JASON CÉSAR DE SOUZA GODINHO

As filas desumanas são provocadas também por informaçõe­s às vezes desencontr­adas, parciais e desconexas, mesmo quando dadas por técnicos especialis­tas. Frente a essa verdadeira calamidade pública, já passou da hora de o presidente da República assumir a responsabi­lidade pela omissão governamen­tal e dar informaçõe­s corretas à população.

LUIZ DALPIAN,

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