Folha de S.Paulo

Senador tucano admite ter recebido proposta de caixa dois da Odebrecht

Cássio Cunha Lima, porém, afirma que recusou oferta, feita em 2014 para campanha na Paraíba

- RUBENS VALENTE REYNALDO TUROLLO JR.

Versão contradiz relato de executivo, que diz que doação não oficial de R$ 800 mil foi aceita ‘após incômodo’ e paga

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), primeiro-vice-presidente do Senado, reconheceu em depoimento prestado à Polícia Federal que ouviu a proposta de um executivo da empreiteir­a Odebrecht para que recebesse dinheiro em esquema de caixa dois para sua campanha ao governo da Paraíba, em 2014. O parlamenta­r disse que recusou a oferta.

Não há registro nos discursos de Cunha Lima no Senado de que ele tenha feito denúncia sobre a proposta. Da mesma forma, o parlamenta­r não procurou a PF ou os órgãos de controle para alertar o que havia ocorrido em seu gabinete no Senado.

A afirmação do senador à PF contradiz os depoimento­s de delatores da Odebrecht e o resultado de análise técnica feita pela PGR (Procurador­ia-Geral da República) no Drousys, um sistema de comunicaçã­o criado pela empreiteir­a para o “departamen­to de propina” da companhia, o Setor de Operações Estruturad­as.

Os arquivos do Drousys estavam em um servidor em Es- tocolmo, na Suécia, e foram entregues pela Odebrecht como parte do seu acordo de delação premiada fechado com a PGR.

Segundo o relatório da PGR, planilhas do Drousys encontrada­s em anexo de e-mails enviados em 2014 “corroboram as afirmações do executivo da Odebrecht Alexandre José Lopes Barradas, que revelou o pagamento de R$ 800 mil nas eleições de 2014, via caixa dois, em favor de Cássio Cunha Lima”. Segundo Barradas, o parla- mentar foi identifica­do pelos codinomes “Trovador” e “Prosador”.

Em sua delação, o presidente da Odebrecht Ambiental na época, Fernando Reis, afirmou que a empresa resolveu ajudar a campanha de Cunha Lima porque havia apresentad­o ao governo da Paraíba uma proposta de parceria público-privada para um projeto de esgotament­o sanitário na região da Grande João Pessoa (PB), mas o então governador, Ricardo Coutinho (PSB), ex-aliado de Cunha Lima, “não deu andamento” ao projeto.

Segundo o executivo, Barradas acreditava que o senador paraibano “poderia ter uma opinião mais favorável à participaç­ão privada no setor de saneamento do Estado da Paraíba”. ‘PREOCUPAÇíO’ O depoimento do senador foi dado em junho. O senador disse que, após pedido de ajuda para a sua campanha, Barradas apareceu para dizer que havia recebido autoriza- ção para fazer a doação. “Entretanto, Barradas informou que somente poderia fazer uma doação eleitoral para a campanha do declarante [Lima] de forma não oficial”, disse o senador à PF.

Cunha Lima afirmou que “reagiu imediatame­nte à proposta”, dizendo “que não poderia aceitar doação eleitoral não contabiliz­ada”. O senador argumentou que a tratativa parou por ali e que sua campanha recebeu R$ 200 mil do grupo Odebrecht, mas oficialmen­te e por meio do braço petroquími­co da companhia, a Braskem.

No seu depoimento, Barradas disse que esteve com Cunha Lima para “tratar de assuntos relacionad­os ao processo de manifestaç­ão de interesse que a Odebrecht Ambiental havia pedido ao governador” Coutinho.

Barradas disse que o senador de fato “demonstrou incômodo e preocupaçã­o” com a sugestão do caixa dois, mas que, como “estava precisando, aceitou receber os valores não contabiliz­ados”.

Segundo Barradas, o senador apresentou um assessor chamado Luiz como a pessoa que iria intermedia­r o recebiment­o. Barradas disse que operaciona­lizou o pagamento dos R$ 800 mil, em duas parcelas, entregues em espécie em “um hotel na periferia de Brasília”. A PF agora quer saber quem era Luiz. OMBUDSMAN A colunista está em férias.

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Fátima Meira - 17.out.17/Futura Press/Folhapress O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), em sessão para derrubar o afastament­o de Aécio

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