Programar e falar inglês é o básico, diz presidente da HP
Para Claudio Raupp, Brasil se prende à velha agenda e pode perder talentos
DE SÃO PAULO
Nos últimos dois anos, as grandes empresas de telefonia deixaram de investir na expansão da rede de fibra, e, com isso, perderam espaço para provedores regionais.
Levantamento da Folha com base em dados da Anatel mostra que a parcela da Claro, da Telefônica (Vivo) e da Oi nos acessos de banda larga via fibra óptica caiu de 81% em 2015 para 62% em 2017.
No mesmo período, empresas de pequeno e médio porte, como Algar, Brisa Net e Network Telecom, tomaram os 38% restantes.
“A procura dos clientes por banda larga é forte, mesmo quando as operadoras não investem”, diz Tadeu Viana, diretor comercial da Corning, empresa de fibra.
“Os pequenos e médios provedores cresceram nesse vácuo. São empresas com uma expansão mais agressiva do que as grandes.”
Enquanto a base de usuários de fibra óptica da Telefônica aumentou 212% em dois anos, Net/Claro e Oi tiveram apenas 21% e 5% de aumento, respectivamente.
Os investimentos em telecomunicações —que incluem banda larga e telefonia— nos primeiros nove meses do ano caíram pela terceira vez desde 2015, de acordo com a Sinditelebrasil, que representa empresas do setor.
Em regiões pobres ou afastadas, o investimento na expansão da rede é considerado de retorno incerto para as companhias. “A lógica comercial é construir o mínimo possível em bairros ricos”, afirma Gustavo Gachineiro, vice-presidente de assuntos corporativos da Telefônica.
“As grandes se retraem quando o mercado se retrai. As pequenas não têm essa opção, é outro tipo de enfrentamento”, diz Basílio Perez, presidente da Abrint, que representa as pequenas empresas —são 4.470 atuantes.
Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, a queda na receita de Claro, Oi e Nextel e o crescimento pequeno de TIM, Sky e Vivo ditam o conservadorismo na hora de investir, o que deve mudar conforme o consumo dos brasileiros aumentar.
“Não recuperamos o nível de consumo de antes da crise, e há um tempo de reação, porque as operadoras trabalham com planos de investimento de três anos”, diz.
Eduardo Levy, presidente do Sinditelebrasil, concorda. “A melhora da economia não vem do início do ano. Fazer projeto, contratar equipamentos, leva tempo.”
O setor pleiteia a aprovação de um projeto de lei complementar que acaba com as concessões de telefonia fixa e com a obrigação de manter telefones públicos.
“Com o projeto, recursos para manter a concessão até 2025 iriam para a banda larga”, afirma Levy. “É importante, já que os custos para importar equipamentos e instalar a fibra são altos.”
Manufatura avançada já lida com 3D, robótica e inteligência artificial, elementos distantes da realidade nacional
O presidente da HP Brasil, Claudio Raupp, conta que nos Estados Unidos e na Europa já há falta de especialistas em robótica. “Novas áreas tecnológicas são a base da transformação de diversas indústrias, e faltam profissionais”, diz ele. No Brasil, isso não ocorre. Não porque o país esteja formando um número adequado de trabalhadores na área, mas por estar tão atrasado que não está criando vagas em robótica.
“O risco de o Brasil não ter uma agenda orientada para o desenvolvimento da manufatura avançada é que os melhores postos vão migrar para fora do país”, diz Raupp, em entrevista sobre como a tecnologia está mudando as empresas e os trabalhadores. investir na educação e questionar se os cursos que as pessoas frequentam estão voltados para o mercado de anos atrás ou olhando para a frente.
O presidente-executivo da Apple, Tim Cook, afirmou que aprender a programar é mais importante que ter um segundo idioma. Concordo com ele. Para os brasileiros, é preciso saber inglês e programação. Riscos para o Brasil Ao contrário do que ocorria antes, os profissionais não precisam estar ao lado das máquinas nas fábricas para criar ou operar. Eles podem trabalhar de qualquer lugar do mundo. O risco de o Brasil não ter uma agenda orientada para o desenvolvimento da manufatura avançada é que os melhores postos de trabalho, nesse contexto, vão migrar para fora do país, o que seria ruim para todos. O Brasil precisa pensar nas questões educacionais, regulatórias, tributárias e de propriedade intelectual que emergem dessa nova era.
Hoje, a peça original de um carro, por exemplo, é feita na linha de produção de uma fábrica. Se um cliente precisa trocá-la, vai a uma concessionária. Com a impressão 3D, será possível baixar um software com o desenho industrial da peça e imprimir em casa. Esse, aliás, é um tipo de serviço que já está disponível às montadoras. Como proteger a autoria da peça? Escassez profissional Nos mercados que já estão mais avançados nessa transformação digital, como Estados Unidos e Europa, já há carência de profissionais especializados. Isso porque essas novas áreas tecnológicas são a base da transformação de diversas indústrias, como a automobilística, a aeronáutica, a aeroespacial, a de bens de consumo e a médica.
No Brasil, não temos falta de especialistas em robotização e automação porque estamos muito atrás da Europa, da Coreia do Sul e da Alemanha na corrida da manufatura avançada. Ou seja, como país, não estamos avançando na devida velocidade para tirar proveito da oportunidade e, principalmente, evitar o risco de perder profissionais. Menos distração O Brasil tem um grande parque industrial e uma grande oportunidade de ser mais competitivo. Infelizmente está muito distraído há alguns anos com questões políticas, de corrupção, de troca de governo... precisamos de estabilidade para o tema ser colocado numa agenda mais forte, com vários movimentos feitos de forma coordenada por governo, sociedade e empresas.
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Vão se destacar profissionais que entreguem o que máquinas não conseguem: análises e questionamentos. É preciso avaliar se os cursos estão voltados para o mercado de anos atrás ou à frente