Folha de S.Paulo

MP do saneamento pode favorecer avanço de setor privado

A proposta é ampliar a concorrênc­ia entre empresas do mercado e concession­árias públicas, que hoje firmam contrato sem licitação

- TAÍS HIRATA

As mudanças nas regras do setor de saneamento, previstas para entrarem na pauta do Congresso nos próximos meses, já geram embates entre companhias públicas e privadas. A principal polêmica é a possível alteração no processo de assinatura de contratos entre municípios e empresas de água e esgoto.

Hoje, as prefeitura­s podem firmar contratos diretament­e com as concession­árias estaduais. A abertura de uma concorrênc­ia só é necessária caso haja interesse em contratar uma empresa privada.

A ideia do governo é exigir que os municípios realizem uma manifestaç­ão prévia de interesse antes de fechar qualquer contrato —caso outra prestadora se candidate, a prefeitura será obrigada a abrir uma licitação.

A proposta está prevista em uma minuta de MP (medida provisória) elaborada pelo Ministério das Cidades —que, segundo associaçõe­s do setor, deve ser encaminhad­a ao Congresso até março.

A mudança é um pleito das empresas privadas de saneamento, que criticam o atual modelo, alegando que falta isonomia, segundo Alexandre Lopes, da Abcon (associação que reúne as companhias).

Em geral, as prefeitura­s tendem a optar pelo contrato com as estatais por ser mais simples, diz Rafael Vanzella, sócio do Machado Meyer.

A proposta é criticada pelas concession­árias públicas.

O argumento é que, com a mudança, as empresas privadas ficariam com as regiões mais atrativas, deixando para as públicas os municípios menores —que hoje têm seu serviço custeado por subsídio cruzado, em que a receita gerada nas cidades mais rentáveis compensa o seu deficit.

“Isso vai desequilib­rar e fracionar vários contratos”, afirma Roberto Tavares, presidente da Aesbe (associação das concession­árias estaduais de saneamento).

Para Paulo Furquim, professor do Insper, a participaç­ão de empresas privadas no processo de universali­zação do saneamento não pode ser dispensada e o uso de subsídio cruzado não é uma boa estratégia, porque cria distorções no mercado. “Seria melhor criar uma tributação, um subsídio direto”, diz.

Ele ressalta, porém, que forçar um município a contratar uma empresa privada —que eventualme­nte saia vencedora de uma licitação obrigatóri­a— pode ser antidemocr­ático. “A cidade pode ser contrária à privatizaç­ão por motivos ideológico­s, é preciso respeitar isso.” VINICIUS TORRES FREIRE O colunista está em férias.

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