ANÁLISE Desinformação e despreparo alimentam histeria coletiva em torno da vacinação
Um misto de despreparo e falta de planejamento das autoridades públicas aliado à desinformação da população explica em parte essa confusão em busca da vacina contra a febre amarela, que, nos últimos dias, resultou em filas gigantescas nos postos, brigas e até agressões a funcionários da saúde.
Junta-se a isso uma boataria de que hospitais de São Paulo estariam cheios de doentes ou de que haveria mais mortes do que as divulgadas, e o descontrole se instala.
Nas redes sociais, muitos culpam a “imprensa sensacionalista” pelo caos. Mas, a depender do que se vê, há grande descrença no que dizem as autoridades da saúde.
Não é para menos. Basta voltar um ano atrás e lá está o ministro da Saúde, Ricardo Barros, dizendo que a situação da febre amarela estava “controlada” em Minas Gerais e que “a vigilância nos outros Estados era qualificada e agia de forma adequada para controlar os casos”.
Enquanto isso, a doença seguiu fazendo estragos em Minas e em outras regiões.
Em 6 de setembro, Barros anunciou o fim do surto de febre amarela no país. No mês seguinte, surgiriam as primeiras mortes de macacos no Horto Florestal em São Paulo e deu no que deu.
O Ministério da Saúde confirma 35 casos e 20 mortes por febre amarela nos últimos seis meses. Porém, só São Paulo e Minas computam mais do que o dobro disso.
Em abril do ano passado, Barros também disse que não haveria fracionamento de vacina. No início deste mês, para dar conta do aumento da demanda, a medida tornouse necessária. A dose fracionada protege da mesma forma que a dose padrão, mas por período menor.
Enquanto isso, as falas das filas vão dando a dimensão da desinformação. Na última quinta (18), a Folha mostrou uma família que fugiu das longas filas em postos da região de Indianópolis, na zona sul de São Paulo, e foi buscar a vacina em Mairiporã.
Ou seja, saiu de uma área segura, em que não há casos de febre amarela, em direção a uma região de alto risco, com 41 casos e 14 mortes. Nunca é demais lembrar que, após a imunização, o organismo leva dez dias para criar anticorpos que protegerão a pessoa da doença.
Agora, com o anúncio de mortes na capital por reação à vacina, é preciso reforçar a comunicação pública para evitar que pessoas deixem de