Climão sentimental
SÃO ELES, os ricos, que estão dizendo: a questão ambiental domina o panorama dos riscos globais. A mudança climática, fruto do aquecimento global turbinado pela humanidade, é a segunda tendência mais preocupante, depois da disparidade de renda e riqueza combinada com a crescente polarização das sociedades.
A mensagem está no centro do “Relatório de Riscos Globais 2017” do Fórum Econômico Mundial, convescote invernal de bacanas que terminou neste sábado (20) em Davos, Suíça.
Pela primeira vez, todos os cinco riscos ambientais avaliados —eventos meteorológicos extremos, incapacidade de mitigar a mudança do clima, catástrofes naturais, escassez de água e perda de biodiversidade— foram classificados como de alta probabilidade e alto impacto.
Dito de outro modo, no ano passado desmilinguiu o impulso que o tema tinha adquirido em 2016, após o relativo sucesso da cúpula do clima na França.
Estados Unidos e China, que viviam a bicar-se na matéria, ratificaram o Acordo de Paris para conter o aquecimento global. Aí Donald Trump foi eleito, mas não só. A agenda ambiental recuou no mundo todo, do Brasil à Alemanha.
Michel Temer (MDB), não exatamente eleito, dá dois passos atrás e nenhum para a frente, sacudindo tudo ao som do funk ruralista. Angela Merkel (CDU) vê a liderança climática de seu país esvair-se na própria incapacidade de cumprir as metas avançadas de redução de gases do efeito estufa que assumiu.
Sirva de consolação o fato de a imprensa voltar a dar atenção para o assunto. Nem tudo está perdido —ou está?
Desanima ver o ranking de notícias climáticas mais populares — vale dizer, mais compartilhadas–— da Climate Feedback, uma rede com centenas de PhDs que avaliam o conteúdo de reportagens publicadas sobre o tema. Sua tarefa: dar uma nota para cada matéria, de -2 (credibilidade científica muito baixa) a 2 (muito alta).
A notícia campeã foi postada pela “National Geographic” em 7 de dezembro, sob o título “Vídeo de Partir o Coração Mostra Urso Polar Faminto em Ilha sem Gelo”. Embora faltassem pouco mais de três semanas para terminar 2017, mais de 1,2 milhão de pessoas compartilharam a reportagem e fizeram dela a mais popular do ano passado.
O título diz tudo. Bicho fofo vai morrer por culpa da gente, oh. O que a reportagem não conta, e por isso passou raspando como “neutra”, com a nota pífia 0,3, é que não há como vincular de modo causal a fome daquele animal em particular com o aquecimento global, suposta causa da ausência de gelo onde ele vive.
A segunda matéria mais compartilhada foi “A Terra Inabitável” uma fantasia alarmista da “New York Magazine” (não confundir com a “New Yorker”) que tomou um -0,7 dos universitários da Climate Feedback. Passemos.
O terceiro lugar ficou com “Há Doenças Ocultas no Gelo, e Elas Estão Acordando” da BBC. Nota zero (neutra).
Em resumo: o comum das pessoas se vê tocado, antes de todo o resto, por notícias apelativas. A complexidade científica, o impacto futuro e a urgência política escorrem pelo ralo das redes sociais.
É de chorar.
Crise do ambiente ganha prioridade em Davos, e pessoas comuns só querem saber de bichos que sofrem