Precisávamos aumentar nossa capacidade de produção, mas não valia a pena in-
Folha – Como nasceu a Salton?
Daniel Salton -Meu bisavô, o italiano Antonio Domenico Salton, chegou com a família em 1878, confiando que encontraria terras fantásticas na Serra Gaúcha. Mas o governo brasileiro já dava as suas caras: os imigrantes encontraram mato puro. Não havia sementes para plantar nem sal para cozinhar. Sem dinheiro para voltar, ele precisou se virar. Em 1884, abriu uma casa de pasto, estabelecimento que oferecia hospedagem e vendia refeições, e passou a produzir o próprio vinho com uvas plantadas no quintal. Mas a empresa nasceu oficialmente 26 anos depois, quando um de seus filhos, Paulo, transformou a casa de pasto em armazém. Que tipo de vinho a Salton produzia no início?
Assim como todos os imigrantes, a família produzia vinho com uvas americanas, ou uvas de mesa, próprias apenas para consumo in natura e para a fabricação de sucos. Assim foi durante muitos anos. Na minha adolescência, nos anos 1970, trabalhava na empresa durante as férias, para faturar um dinheirinho, e lembro bem do vinho brasileiro daquela época. Faltava técnica, mão de obra qualificada e boas uvas, um problema que atingia todas as vinícolas. As frutas chegavam em dornas abertas e já iam fermentando pelo caminho. O vinho não podia ser bom. Quando a qualidade do vinho brasileiro melhorou?
A transformação ocorreu com a abertura às importações, no começo dos anos 1990, no governo de Fernando Collor. Vinhos estrangeiros, como o famoso alemão Liebfraumilch, entraram no país e fizeram o setor se mexer. As poucas vinícolas que existiam aproveitaram para adquirir equipamentos melhores e outras foram fundadas. Em qual segmento de mercado a Salton apostava então?
Nosso foco era produzir muito volume, mas os produtos tinham baixo valor agregado. Foi assim até o fim da década de 1990, quando aconteceu o boom do mercado de espumantes. Em 1999, nosso estoque se esgotou em agosto por causa dos preparativos para a virada do milênio. Era uma bebida de ocasião, só para datas festivas, porque ninguém pedia espumante em restaurante. Ainda assim, enxergamos que havia ali um grande potencial de crescimento, um impulso para que pudéssemos mudar nossa imagem. Qual foi a estratégia? um dinheirão para vender vinho barato. Mudamos então nosso foco para a produção de vinhos finos. Investimos R$ 20 milhões na construção da nova vinícola, em Tuiuty [distrito de Bento Gonçalves], contratamos um enólogo argentino, implantamos controles internos de qualidade, passamos a rastrear a origem das uvas, mudamos métodos operacionais e administrativos. Passamos também a cultivar uvas na Campanha