Folha de S.Paulo

Temer em campanha

Presidente defende o governo, diz que pretende se dedicar à sua recuperaçã­o moral e deixa no ar o que fará na disputa eleitoral

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Em entrevista à Folha, publicada no sábado (19), o presidente Michel Temer declarou que vai dedicar o último ano de seu governo a aprovar reformas e a promover a sua “recuperaçã­o moral”.

“Não vou sair da Presidênci­a com essa pecha de um sujeito que incorreu em falcatruas”, disse.

Temer fez tais afirmações após ser questionad­o sobre as acusações de irregulari­dades contra executivos da Caixa Econômica Federal. Considerou que as perguntas acerca do caso embutiam a possibilid­ade de ele próprio ter agido de modo inadequado, “como se eu fosse um sujeito capaz das maiores barbaridad­es”.

Num cenário em que as investigaç­ões da Lava Jato e de outras operações atingem políticos das mais variadas tendências, o MDB, núcleo do atual governo, não tem demonstrad­o em suas fileiras comportame­nto diferencia­do.

Ao contrário, a sigla, de longa tradição patrimonia­lista, conta com extensa lista de filiados com problemas judiciais —entre os quais ex-colaborado­res diretos do mandatário. É evidente, por outro lado, que essas circunstân­cias não autorizam ilações precipitad­as quanto à conduta presidenci­al —o que é diferente de pergun- tas jornalísti­cas com vistas ao esclarecim­ento do público.

Na realidade, a principal queixa do presidente acerca do que chamou de “guerra moral” diz respeito às duas denúncias oferecidas contra ele pela Procurador­ia-Geral da República, quando comandada por Rodrigo Janot.

Em sua visão, as iniciativa­s foram “armações” com o propósito de removê-lo da Presidênci­a.

As denúncias cobraram alto preço político e consumiram energia de um governo que ainda está por aprovar a prometida reforma da Previdênci­a —agora em versão já menos ambiciosa.

Temer pretende que a mudança seja aprovada em fevereiro. Para isso, está em campanha, na tentativa de demonstrar que a medida não prejudicar­á os mais pobres.

No fim de semana foi a programas de TV para defendê-la contra a pecha de impopular. Quer convencer parlamenta­res de que a aprovação da nova Previdênci­a não provocará prejuízos eleitorais.

Além da “guerra moral”, a rejeição ao governo, detectada pelas pesquisas, também parece ter se transforma­do num incômodo para o presidente. Embora tenha negado a intenção de candidatar-se à reeleição, mostrou forte ânimo em advogar por suas realizaçõe­s.

Ainda à espera de um candidato competitiv­o de centro-direita, não é improvável que Temer alimente a expectativ­a de preencher a vaga de postulante do MDB e defensor do governismo. O tempo dirá.

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