Folha de S.Paulo

Lá se foi Botsuana

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SÃO PAULO - Não há grande mistério na fórmula que faz um país pobre progredir para um nível remediado de renda. Basta uma certa dose de centraliza­ção política, não importando sob qual regime, de urbanizaçã­o e de tecnologia­s baratas que derrubam a mortalidad­e precoce e “voilà”.

Por volta de 1980, a grande maioria das populações da Europa e da América havia atingido esse estágio. A Ásia tirou o atraso nas décadas seguintes. A renda média de um asiático está a poucos anos de equiparar-se à de um sul-americano. Há 38 anos, a primeira era 1/4 da segunda.

É provável que tenha chegado a vez da África. Há sinais no continente de avanços sobre duas chagas que costumam perpetuar a pobreza: a fragmentaç­ão granular do poder político e uma epidemia genocida, como tem sido a Aids para povos ao sul do Saara nas últimas duas décadas.

Chegar é uma coisa, passar é outra, diz o narrador Galvão Bueno. Vale para as corridas de carro, vale pa- ra a marcha das nações que atingem a renda média. Poucas ao longo da história subiram ao andar de cima, o dos países desenvolvi­dos.

Na Ásia, a ditadura chinesa desafia o postulado de que só democracia­s chegam à elite, embora falte percorrer um pedaço longo e arriscado de estrada até lá. Na nossa região, o Chile destoa da geleia geral e deve sagrar-se o primeiro sul-americano desenvolvi­do na próxima década.

Na África negra, o candidato é Botsuana, que decuplicou o PIB nas últimas quatro décadas. Sua renda per capita, em medida que compara os poderes de compra, ultrapasso­u a brasileira em 2014 e não vai parar tão cedo de abrir distância.

A pequena nação mediterrân­ea do sul da África, com 2 milhões de habitantes, pratica versões dos regimes abertos e competitiv­os na política e na economia em modo estável há 50 anos. O baixo nível da corrupção percebida indica boa adesão ao primado da lei. Lá se foi Botsuana. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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