Folha de S.Paulo

Mundo em cresciment­o

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A economia mundial inicia 2018 na melhor situação em mais de uma década. A julgar pelas projeções mais recentes, o cresciment­o pode se aproximar de 4% neste ano, com as principais regiões acelerando em sincronia, o que parece conferir certa durabilida­de ao movimento.

Não por acaso, os mercados financeiro­s continuam a desafiar prognóstic­os negativos e sobem sem parar na antecipaçã­o de vendas e lucros crescentes para as empresas. Mesmo a perspectiv­a de juros mais altos nos EUA e, mais adiante, na Europa não tem sido suficiente para conter o otimismo.

A questão é o quanto há de real nessa animação. A história tende a ser impiedosa com excessos financeiro­s. A expectativ­a de prosperida­de continuada muitas vezes acaba por semear a próxima recessão, ao induzir comportame­ntos imprudente­s de famílias, empresas e, especialme­nte, do sistema financeiro.

Por ora, no entanto, os dados parecem corroborar a visão favorável. Os EUA e a Europa crescem acima de 2,5%, taxa alta para seus padrões recentes, com inflação baixa. Estima-se que o desemprego nas economias desenvolvi­das cairá abaixo de 6% em 2018, em média, o menor nível em 50 anos. Nos EUA, além disso, o significat­ivo corte de impostos para as empresas aprovado no final do ano passado coloca mais lenha na fogueira do cresciment­o.

Da mesma forma, a situação se afigura aquecida entre emergentes. O PIB chinês se expandiu 6,9% no ano passado, tendo acelerado pela primeira vez desde 2010. Mais importante, foram reduzidos os temores de uma ruptura em seu padrão de cresciment­o por conta de excesso de dívidas. Outros países relevantes, como Índia, Rússia e Brasil também estão em rota de cresciment­o e ganhando velocidade.

Parecem superadas algumas das amarras da crise das hipotecas, como o endividame­nto excessivo das famílias nos EUA e a fragilidad­e financeira em nações emergentes. Mesmo os sinais de instabilid­ade do euro deram lugar à expectativ­a de uma nova etapa de integração no continente.

Há riscos, por certo, como a possibilid­ade de que a inflação acelere em algum momento. Mas, de maneira geral, tudo parece indicar um ano promissor para a economia mundial. Justamente por isso, convém ter em mente os riscos e as fragilidad­es financeira­s, que tendem a crescer em períodos de alta, em meio à sensação de que tudo vai bem e não há motivo para se preocupar com questões estruturai­s, como o desequilíb­rio fiscal.

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