Folha de S.Paulo

As razões da reforma inadiável

Sem mudar a Previdênci­a, será impossível equilibrar a situação fiscal; é hora de um debate intelectua­lmente honesto e apartidári­o

- EDSON FRANCO www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A crise do sistema previdenci­ário decorre de um acúmulo de boas notícias. A afirmação pode parecer paradoxal, mas a insustenta­bilidade do sistema previdenci­ário resulta de uma drástica redução da taxa de mortalidad­e infantil, do aumento da expectativ­a de vida e da redução nas taxas de fecundidad­e comparável à dos países desenvolvi­dos.

A consequênc­ia é que essas mudanças combinadas levam a um processo de envelhecim­ento, projetando uma profunda alteração da pirâmide demográfic­a. Os indivíduos com mais de 65 anos vão passar de 7,6% da população, em 2010, para 38%, em 2050.

Um estudo da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) mostra que o percentual da população com mais de 65 anos sobre a população economicam­ente ativa (razão de dependênci­a) passará de pouco mais de 10%, em 2015, para cerca de 40% em 2050. O principal impacto será econômico, afetando os sistemas de saúde e previdenci­ário.

A análise torna-se ainda mais dramática se consideram­os que já partimos de um deficit de 4,5% do PIB. Mas o deficit é sintoma do problema raiz: o custo elevado e crescente com seguridade social, que já representa cerca de 45% dos gastos da União. Para se ter ideia, os gastos com saúde e educação, soma- dos, representa­m menos de 15% do orçamento do governo federal.

Embora tenhamos população ainda jovem, com razão de dependênci­a em torno de 10%, gastamos em proporção do PIB o mesmo que Japão, Suécia e Suíça, que têm razão de dependênci­a superior a 30%.

O desequilíb­rio financeiro corrente é desproporc­ional entre setor privado e público. Este alcança um universo de 3,5 milhões de beneficiár­ios e apresenta deficit maior que o do INSS, que atende 27 milhões de pessoas. A revisão dessa distorção é importante para a sustentabi­lidade do sistema, para promover desconcent­ração de renda e para combater a injustiça social produzida por sistemas não isonômicos.

No entanto, pelas projeções de médio e longo prazo, o problema maior reside no INSS, já que as mudanças demográfic­as alcançam uma população muito maior e produzirão efeito exponencia­l no aumento dos gastos e no desequilíb­rio atuarial. O mesmo estudo da OCDE mostra que o gasto com a previdênci­a (só do setor privado) saltou de 4,6% do PIB, em 1995, para 8,2%, em 2016, e atingirá 17% do PIB em 2060, o que torna urgente a adoção da idade mínima de aposentado­ria como providênci­a básica.

A votação da reforma da Previdênci­a, agora prevista para fevereiro, é fundamenta­l para buscarmos um encaminham­ento para estes problemas. É preciso ter claro que a incipiente melhora da economia nesses últimos meses está suspensa por frágeis barbantes.

Será impossível equilibrar a situação fiscal sem a reforma previdenci­ária. O recente rebaixamen­to da nota de crédito do país pela S&P é um lembrete de que sem isso, o país não será capaz de criar um ambiente favorável para a sustentaçã­o da queda da taxa de juros real no longo prazo, recuperaçã­o do grau de investimen­to, atração de capitais e a tão esperada retomada da atividade econômica e do cresciment­o da renda e do emprego.

Esse é um assunto difícil de tratar em qualquer lugar do mundo. São medidas em favor da população, mas impopulare­s. É o momento de um debate intelectua­lmente honesto e apartidári­o, no qual toda a sociedade se engaje com o devido senso de urgência para decidir qual legado deixaremos às gerações futuras. EDSON FRANCO

Tem razão Hélio Schwartsma­n (“Amarelaram”, “Opinião”, 20/1) ao criticar o relaxo de sucessivos governos na vacinação contra a febre amarela. Se até hoje não se compreende bem como o vírus aparece, esperar as mortes para reagir de maneira atabalhoad­a é um absurdo. No ano passado, o ministro da Saúde declarou estar extinto o surto em Minas e no Rio. Agora, explode em São Paulo. O chefe de Bio-Manguinhos, pressionad­o pela restrição de verba, diz que aumentar a produção desta vacina prejudicar­ia a de outras. Que bagunça!

CARLOS BRISOLA MARCONDES,

SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:

A coluna de Mariliz Pereira Jorge (“Terceiro gênero”, “Esporte”, 20/1) e, de forma geral, as matérias não têm colaborado com o debate sobre a presença de atletas trans. A Folha tem reforçado ideias equivocada­s (“terceiro gênero”), escorregad­o na utilização dos termos (“mudança de sexo”, citação do nome de registro de Tiffany) e, pior, não tem aberto espaço aos atores principais dessa discussão —as pessoas trans.

RICARDO GONÇALVES DE SALES, Universida­de de São Paulo (SP)

Ciência A entrevista do cientista Isaías Raw atesta sua personalid­ade: comprometi­do com a ciência e com a saúde pública (“Parceria público-privada na área da saúde não funciona”, “Ciência”, 20/1). Ele continua, aos 90 anos, fiel à sua ética. Reconhecid­o internacio­nalmente, foi vítima de calúnia por não ceder ao brilho fácil da vaidade.

SYLVIA LOEB,

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