Fico feliz de ver o pacto com o diabo ser repensado
DIVÓRCIO ENTRE A MÍDIA E AS GIGANTES DA TECNOLOGIA, COMO GOOGLE E FACEBOOK, É DOLOROSO NO CURTO PRAZO, MAS SERÁ SAUDÁVEL PARA TODOS, AVALIA CRÍTICO ÀS REDES SOCIAIS
Times” e o “Washington Post” criaram paywalls [acesso restrito] e cobram assinaturas, embora, infelizmente não cobrem o suficiente para o faturamento de que precisam. Com o tempo, notícias de qualidade serão um produto mais elitista. A Folha não vai mais ser o “New York Times” do Brasil, provavelmente será uma Louis Vuitton, não será acessível para muita gente. Qual será a consequência dessa decisão do Facebook?
A mídia se tornou dependente do Facebook para tráfego e faturamento e isso distorceu as escolhas editoriais feitas nas empresas jornalísticas e reduziu a qualidade. Espero que a mídia pare de fazer textos e produtos para atender às demandas dos algoritmos. Isso vai aumentar a qualidade do jornalismo. O sr. diz no livro que “Trump começou como o leão Cecil e terminou como presidente dos EUA”. Em que medida a mídia foi responsável pela eleição de Trump?
A mídia está obcecada com o número de cliques que cada artigo recebe. Na maioria das redações há uma tela enorme mostrando a popularidade de cada artigo em determinado momento.
Há uma análise de custobenefício que os editores fazem na hora de pautar uma matéria. Se não acham que o artigo será razoavelmente popular, não pautam. Isso distorce o trabalho, cria incentivos péssimos, em vez de ir atrás de coisas que são importantes, vão atrás de coisas que são populares. Existe um ciclo de realimentação de ver o que o público quer e tentar produzir notícias que o agradem. Esse ciclo explica a ascensão de Trump. Todos os editores sabiam que Trump era uma piada. Mas também sabiam que Trump mexia com as ansiedades das pessoas e até aquelas que o odiavam iriam clicar nas matérias em que ele duvidava da certidão de nascimento de Barack Obama, para poder sentir ódio de Trump. Por que o sr. propõe a criação de uma agência de proteção de dados?