Folha de S.Paulo

Çarem a tomar essas decisões, vão passar a sofrer muita pressão de governos e movimentos políticos.

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Folha - O senhor afirma que estamos terceiriza­ndo capacidade­s intelectua­is para o Facebook, Google e Amazon. Em que sentido?

Franklin Foer - Essas empresas funcionam como portais de informação, e a maneira pela qual elas organizam a informação determina nossa maneira de pensar. Se você quer comer e busca restaurant­es no Google, sempre estará mais inclinado a escolher o restaurant­e que aparecer primeiro, e isso vale para tudo, seu plano de saúde, o sentido da vida ou a existência de Deus. A informação que vemos primeiro molda nossa opinião. Também somos mais inclinados a comprar o que aparece no topo dos resultados de busca na Amazon, somos preguiçoso­s. Essas empresas reuniram uma quantidade de informação gigantesca sobre cada um de nós, entendem muito bem nosso processo de escolha. O sr. diz em seu livro que a maioria das pessoas não sabe como funcionam os algoritmos usados pelas big tecs e acha que eles são imparciais. Como eles nos empurram para certos comportame­ntos?

Algoritmos são instruções para sair de um ponto A e chegar a um resultado B. Mas, por exemplo, em um mecanismo de busca, os algoritmos não nos levam a visualizar simplesmen­te os resultados mais populares. As empresas introduzem variáveis nesses algoritmos, para suprir suas necessidad­es. Por exemplo, a Netflix usa algoritmos para recomendar filmes que seriam compatívei­s com nossas preferênci­as. Mas a Netflix normalment­e vai recomendar filmes menos conhecidos, porque eles custam menos para a empresa do que blockbuste­rs e dão uma taxa de lucro maior. As empresas não revelam quais variáveis usam nos algoritmos?

Não. Querem manter esse mistério. Por exemplo, na maioria das buscas do Google, o site tira os resultados ligados a pornografi­a, a menos que você esteja buscando especifica­mente isso. Mas não tiram os resultados ligados a antissemit­ismo, e poderiam fazer isso, se quisessem. Não querem assumir a responsabi­lidade de decidir o que é discurso aceitável e o que não é, porque se comeYork História pela Universida­de Columbia (EUA) O sr. argumenta que essas empresas são monopólios e deveriam ser reguladas.

Um dos maiores perigos dos monopólios é que eles são destrutivo­s para a democracia. No caso dessas empresas, isso é óbvio —elas permitem a proliferaç­ão de mentiras, teorias da conspiraçã­o, e estão destruindo a mídia tradiciona­l. Google e Facebook usam seu poder para prejudicar quem produz para eles —empresas de mídia e agências de propaganda. Eles sugaram todo o dinheiro de anúncios que costumava ir para revistas, jornais e sites. Fizeram isso com uma política de preços predatória e acumularam um número de usuários tão grande que tornou muito difícil as empresas de mídia competirem. época em que todas as cidades americanas tinham um jornal. Hoje, notícias locais não existem mais. Esse processo vai se repetir porque no mundo de Facebook e Google nenhuma empresa de mídia conseguiu achar um modelo de negócios realmente viável. entre Facebook e Google e a mídia. Vai ser doloroso no curto prazo, mas no final será saudável para todos.

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