Folha de S.Paulo

Ascensão de bilionário­s foi recorde em 2017

Pesquisa mostra que 233 pessoas se tornaram ultrarrica­s, o maior número desde 1987

- FERNANDA MENA

No ano passado, 233 pessoas entraram para o clube dos bilionário­s do mundo, o minúsculo topo do topo da pirâmide socioeconô­mica global onde já se espremiam 1.810 ultrarrico­s. Nove a cada dez deles são homens, 43 são brasileiro­s. Trata-se da maior alta no número de indivíduos com patrimônio acima de US$ 1 bilhão desde que a revista “Forbes” iniciou a célebre lista, em 1987.

O fenômeno tem múltiplas causas: melhor desempenho da economia global, alta histórica das bolsas, distribuiç­ão de lucros e dividendos cada vez mais vultosos, isenções fiscais, sonegação e a captura de políticas públicas pelas elites econômicas.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira (22) pela ONG britânica Oxfam, não é possível compreende­r este boom de bilionário­s sem observar uma questão de fundo: um sistema econômico que recompensa mais a riqueza que o trabalho.

A hipótese dá título ao documento “Recompense­m o trabalho, não a riqueza” previsto para sair na véspera do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), que reúne boa parte do PIB global. “Para nós é importante discutir com grandes corporaçõe­s porque muito da desigualda­de tem a ver com a atuação delas, que estão maximizand­o os lucros de seus acionistas enquanto precarizam salários e condições de trabalho”, diz Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

Segundo ela, o setor da moda é emblemátic­o dessa dinâmica. O conglomera­do que abriga a marca Zara, por exemplo, pagou cerca de US$ 1,5 bilhão em dividendos a Amancio Ortega, seu fundador e um dos homens mais ricos do mundo. Fornecedor­es do setor, no entanto, pagam US$ 4 por dia por longas e insalubres jornadas de trabalho.

Entre as recomendaç­ões da Oxfam estão políticas empresaria­is que limitem retornos para acionistas, promovam o coeficient­e de remuneraçã­o de altos executivos ao teto de 20 vezes o salário médio de seus empregados e garantam a representa­ção de trabalhado­res em seus conselhos, apoiando negociaçõe­s coletivas. ALTA DAS BOLSAS O relatório destaca que 82% de toda riqueza gerada em 2017 ficou nas mãos do 1% mais rico do mundo, enquanto a metade mais pobre, ou seja, 3,7 bilhões de pessoas, não ficou com nada e vive com renda que varia de US$ 2 a US$ 10 por dia.

“As pessoas mais ricas têm acesso a serviços mais sofisticad­os para fazer o dinheiro render e para pagar menos impostos”, afirma o economista Sérgio Firpo, professor do Insper. “Mas não está claro o quanto isso corrobora para elevar a desigualda­de”, diz.

“Patrimônio gera riqueza que gera patrimônio de volta, ciclo que só pode ser quebrado com políticas públicas de redistribu­ição”, diz Rafael Georges, coordenado­r de campanha da Oxfam Brasil.

As bolsas globais nunca subiram tanto como em 2017, engordando algumas das for- a riqueza dos bilionário­s cresceu 11% ao ano, enquanto salários aumentaram, em média, 2% tunas que despontara­m. A alta tanto aponta para a retomada da economia quanto levanta suspeitas de uma bolha especulati­va como a que levou à crise de 2008.

“Uma das consequênc­ias da melhora das bolsas é o aumento da concentraç­ão de riqueza e do número de bilionário­s”, diz Raphael Figueredo, sócio-analista da Eleven Financial. “Mas anuncia a retomada do cresciment­o global em 2018, o que tende a diminuir a desigualda­de.” de toda a riqueza gerada em 2017 se concentrou nas mãos do 1% mais rico

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