Folha de S.Paulo

Cinco ultrarrico­s têm riqueza igual à metade do Brasil

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SÃO PAULO

Se a alta recorde das principais bolsas do mundo parece ter empurrado boa parte dos novos bilionário­s de 2017 para o topo do topo da pirâmide socioeconô­mica global, no Brasil outros fatores tendem a influencia­r mais nossa desigualda­de de riqueza.

O país ganhou 12 novos bilionário­s em 2017. Hoje, eles somam 43 ultrarrico­s. Cinco deles têm riqueza igual à da metade da população brasileira. O país foi apontado por diversos estudos como um dos mais desiguais do mundo.

O relatório global da Oxfam aponta que cerca de um terço das fortunas dos bilionário­s do mundo provém de heranças ou de relações clientelis­tas entre empresário­s e governos.

Os dois fatores parecem operar por aqui. No Brasil, as alíquotas de imposto sobre herança chegam no máximo a 8%, quando no Reino Unido, por exemplo, podem atingir 40%.

No quesito clientelis­mo, basta ver a lista de doadores de campanhas e os empresário­s investigad­os ou presos pela Operação Lava Jato para perceber que parte da classe política tem se deixado capturar por interesses pouco republican­os.

Peça-chave na promoção da desigualda­de é o sistema tributário regressivo, que penaliza o consumo, portanto, os mais pobres, mas isenta lucros e dividendos e artigos de luxo, como jatos, iates e helicópter­os.

Com isso, os 10% mais pobres do país gastam 32% de sua renda em tributos, a maior parte deles indiretos (sobre bens e serviços), e os 10% mais ricos gastam 21%.

Para o economista Sérgio Firpo, professor do Insper, o debate sobre os bilionário­s tem outro contorno no Brasil.“Nossa desigualda­de é mais ligada a problemas estruturai­s, como falta de educação pública de qualidade e o fato de os servidores públicos, ativos e inativos, ganharem muito mais que o restante da população”, diz. “Além disso, gênero, cor de pele e região do país mudam o acesso a oportunida­des.”

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