Folha de S.Paulo

Inflação de 2,95%?! Não a minha...

- MARCIA DESSEN COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Rodrigo Zeidan; domingo: Samuel Pessôa

HAVIA 20 anos não se via uma inflação tão baixa. O IPCA fechou 2017 em 2,95%, abaixo do piso de 3% da meta estipulada pelo governo. O presidente do Banco Central teve até de explicar por que a meta não foi cumprida, como se inflação fosse coisa boa e sabemos que não é.

Agora falta explicar para milhões de brasileiro­s por que essa desacelera­ção nos preços, medida pelo IPCA, não foi sentida no bolso deles. Os técnicos explicaram que uma supersafra reduziu o preço dos alimentos (-4,85%),itemdemaio­rpesonoínd­ice —25% das despesas das famílias.

Entretanto, os preços dos outros itens que compõem a cesta do IBGE subiram. O preço do botijão de gás puxou a fila, com aumento de 16%, seguido de perto pelos planos de saúde, que ficaram 13,5% mais caros. As creches corrigiram o preço em 13,2%, o gás encanado, em 11%, e a taxa de água e esgoto, em 10,5%.

E não parou por aí. Os preços do ensino médio particular, da energia residencia­l e da gasolina subiram 10,3%. Tantos e elevados aumentos explicam por que o custo de vida aumentou, em maior ou menor escala.

Não sentiu alívio no bolso, pelo contrário? A explicação está no fato de que os itens que compõem sua cesta de consumo têm pesos diferentes dos pesos da cesta pesquisada pelo IBGE, produzindo outro índice, o seu índice de inflação.

Suponha que seu gasto com saúde e educação, por exemplo, correspond­a a 15% e 8% do seu orçamento, respectiva­mente. Os pesos que o IBGE atribui a esses itens são 11% e 4,4%. Se o gasto em outros itens não compensar esse excesso, sua inflação será maior do que a oficial.

O salário do José subiu pouquinho, muito abaixo dos preços dos seus itens de consumo. E sua mulher, Maria, que trabalhava e contribuía para as despesas da casa, está desemprega­da. Estão muito preocupado­s e perguntam como sair dessa.

Não tem milagre, nem fórmula mágica. Para dar conta das despesas tentando manter uma boa qualidade de vida, só tem um jeito: ganhar mais e gastar menos.

Desemprega­da e com tempo livre, Maria usa sua habilidade e decide cozinhar, preparar marmitas com a boa, saudável e barata comida caseira que vai fornecer para os funcionári­os de alguns escritório­s próximos de sua casa. O investimen­to é pequeno, de rápido retorno, e ela espera, em breve, ganhar mais do que ganhava no emprego que perdeu.

“Gastar menos como?”, pergunta José. O primeiro passo é um orçamento bem-feito. Nele conseguimo­s saber quanto gastamos por mês e, além disso, entender para onde vai nosso dinheiro, calcular quais os grupos de despesas mais relevantes.

José descobriu que a família gasta 25% da renda com alimentaçã­o e está convencido de que pode e precisa reduzir esse item. E não se trata de comer menos ou pior, pelo contrário, é possível comer melhor gastando menos, comendo em casa. Como Maria descobriu uma forma de ganhar dinheiro cozinhando, será ainda mais fácil atingir essa meta.

Quebrando a cabeça em busca de como seria possível reduzir as despesas, José percebeu que o item transporte é o maior vilão do seu orçamento. Está pensando seriamente na possibilid­ade de vender o carro e passar uns tempos sem ele. Já andou conversand­o com amigos e colegas de trabalho sobre como organizar um esquema colaborati­vo de transporte. Ele ainda terá despesas de transporte, mas acredita que conseguirá reduzir bastante essa fatia importante do seu orçamento.

Depois de alimentaçã­o e transporte­s, habitação é a terceira despesa que mais pesa no bolso. José paga aluguel e, depois de uma boa conversa com o proprietár­io, conseguiu manter o valor inalterado por mais um ano. Quem paga o financiame­nto imobiliári­o pode procurar o banco e analisar alternativ­as para reduzir o valor da mensalidad­e. Dois exemplos: saldo disponível no FGTS pode ser usado para amortizar parte da dívida e o prazo do financiame­nto pode ser estendido para reduzir o valor da mensalidad­e.

Em relação a energia, água e telecomuni­cações, podemos mudar os hábitos de consumo. Quando não podemos mudar o preço, mudamos a quantidade, e o resultado logo será sentido no orçamento.

Nosso desafio é viver com uma cesta de consumo que caiba no nosso bolso, além de manter uma reserva e estratégia para enfrentar os aumentos que virão a cada ano.

Sua cesta de consumo é diferente da medida pelo IBGE? Sua inflação pode ser maior ou menor que a oficial

MARCIA DESSEN, marcia.dessen@gmail.com

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Fernando de Almeida

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