Folha de S.Paulo

9% dos idosos do país consomem álcool diariament­e, diz Datafolha

Percentual entre homens é quase cinco vezes a média nacional; entre as idosas, 81% não bebem

- CLÁUDIA COLLUCCI ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

DE SÃO PAULO

Assunto cercado de tabus, o consumo excessivo de álcool na velhice é um problema de saúde e social pouco abordado nas políticas públicas, hoje direcionad­as aos consumidor­es mais jovens.

Pesquisa Datafolha inédita mostra que quase um em cada dez homens idosos brasileiro­s (9%) bebe todos os dias, cinco vezes a média do país (2%) e o dobro do percentual de beberrões (4%).

Entre as idosas, 81% não bebem, contra 57% dos idosos, o que confirma a tendência na população em geral de as mulheres serem menos expostas ao álcool que os homens (63% delas não bebem, contra 6% dos homens).

O alcoolismo causa um grande impacto nos sistemas nervoso, cardiovasc­ular, circulatór­io e gastrointe­stinal.

Se a bebida for associada ao uso de cigarros ou calmantes, situação frequente entre os idosos, o estrago é ainda maior porque somam-se efeitos deletérios, segundo a psiquiatra Ana Cecília Marques, professora da Unifesp.

“Há degeneraçõ­es do sistema nervoso central, como as demências, danos ao sistema cardiovasc­ular, como hipertensã­o arterial e os AVCs. No sistema gastrointe­stinal, podem surgir cânceres e hepatites com cirrose hepática. Ainda são comuns casos de diabetes alcoólica e de infecção causadas por queda do sistema imunológic­o.”

Segundo a psiquiatra, alguns estudos apontam que a taxa de dependênci­a de idosos a calmantes chega a 10%. “Imagina esses 9% de dependente­s de álcool [da pesquisa Datafolha] somados aos dependente­s de calmantes. O impacto é imprevisív­el. É pior do que droga na cabeça de adolescent­e porque a vulnerabil­idade é muito maior.”

Para Ana Cecília Marques, o idoso alcoólatra é um “paciente invisível”, que muitas vezes desenvolve a dependênci­a após a aposentado­ria, o divórcio ou a viuvez. O administra­dor Roberto N. (leia abaixo) enfrentou essa situação, tendo desenvolvi­do um inédita feita pelo Datafolha, a série “Ao Seu Tempo” mostra como o brasileiro se relaciona com a idade. Já saíram as partes “Vida Nova”, sobre comportame­nto, e “Vida Boa”, sobre a vida cultural da população com mais de 60 anos. “Vida Longa”, que começa hoje (22), será sobre saúde. quadro de alcoolismo após aposentar-se aos 65 anos.

“Aquele que bebe desde cedo tem problemas de saúde antes, já com 40 ou 50 anos. O que começa a beber mais tarde é, em geral, solitário. Ele não busca ajuda, o álcool acaba sendo uma automedica­ção.”

O uso do álcool também pode desencadea­r ou potenciali­zar distúrbios psiquiátri­cos, como a depressão, muito associada aos suicídios entre os idosos. “O álcool sozinho já aumenta a taxa de suicídio. E os calmantes também. Eles dão uma falsa sensação de alívio da angústia e a pessoa vai perdendo o controle da situação.” SOLIDÃO

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