SÉRIE MOSTRA RELAÇÃO COM A IDADE
Baseada em pesquisa nacional
O clínico-geral Paulo Olzon concorda que a solidão, a morte de amigos e parentes e a consequente perda de referências seja um importante desencadeador do alcoolismo na velhice.
Ele argumenta, porém, que os médicos têm pouco a fazer diante da recusa da pessoa em aceitar ajuda. “Os idosos dificilmente admitem o consumo excessivo de álcool, acham que têm controle sobre a bebida.”
Para ele, é preciso respeitar a autonomia do paciente. “Tem idoso que fala: ‘quero comer e beber até morrer. Já sou aposentado, não estou atrapalhando ninguém e quero viver do meu jeito’. Acabou o tempo de médico exercer papel de pai.”
Segundo Ana Cecília Marques, é comum o idoso ter descontrole nos níveis da pressão arterial ou da glicemia por causa da bebida e esconder isso do médico.
Ela diz que, em alguns pacientes, beber uma vez por semana já traz problemas. Entre os entrevistados pelo Datafolha, 35% se enquadram nessa situação.
“Eles nem bebem muito porque não aguentam. Vão cair muito antes do que uma pessoa mais jovem. Se eles bebem três ou quatro doses, elas já fazem efeito de dez.”
Ana Cecília afirma que faltam políticas públicas voltadas para o álcool e outras drogas e, entre os idosos, a ausência é ainda maior. “Falase muito do consumo de álcool na adolescência, mas quase nada na velhice.” CIGARRO De acordo com o Datafolha, a taxa de fumantes é menor entre idosos (14%, contra o pico de 22% dos 35 aos 59 anos), mas a porcentagem entre idosos dos que nunca fumaram é a mais baixa (55%, contra 71% dos que têm de 16 a 24 anos). Dos brasileiros, 61% nunca fumaram, 19% fumam e 20% largaram o cigarro.
Mulheres são menos expostas ao fumo que homens: 68% nunca fumaram, 16% fumam (55% e 22% para eles). Dentre mulheres idosas, 64% nunca fumaram, contra apenas 43% dos homens idosos, ou seja, a maioria dos homens idosos foi exposta ao ci- garro; 39% deles largaram e 18% ainda fumam. Fumantes idosas são 11% entre as mulheres de 60+.
Segundo Jaqueline Scholz, cardiologista do Programa de Tabagismo do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP), dificilmente as pessoas começam a fumar na velhice. “Normalmente, ela inicia na juventude e passa a vida toda fumando. Quando idosa, não acredita que vai conseguir parar.”
De acordo com o Datafolha, pessoas menos escolarizadas fumam mais no geral, contudo, entre os idosos, são os graduados que fumam mais (18%), como é o caso de Rosaly e Sylvio Bocchini (ver texto na página ao lado), que fumaram por mais de cinco décadas até abandonarem, há três anos, o vício do cigarro.
Em geral, explica a médica, o vínculo emocional do idoso com o cigarro é grande e a dificuldade de se livrar da dependência é maior.
A maioria chega para o tratamento pelas mãos de parentes. A terapia envolve antidepressivos e medicamento antitabaco.
“Quando conseguem, melhoram muito a qualidade de vida. Têm aumento da capacidade respiratória, melhoram da tosse, sentem menos cansaço, recuperam a voz”, explica a médica.
Nessa fase da vida, diz ela, parar de fumar costuma ser para valer. “Muitos se sentem tão bem que questionam por que não pararam antes.”