Folha de S.Paulo

Quando o chef Bernard Loi-

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seau se matou em 2003 (diziase que foi por ter perdido uma estrela, mas não perdera — matou-se por instabilid­ades mentais agravadas por gigantesca­s dívidas) Bocuse praguejou contra os guias gastronômi­cos —jamais reclamou deles quando os guias fizeram de seu restaurant­e na pequena Collonges-au-Mont-d’Or um destino de peregrinaç­ão de leitores de todo o mundo.

E para que tudo isso? Para

Bocuse esteve sempre cercado por grandes chefs, em ambientes onde sobressaía não a competição e o ciúme, mas uma aura quase de família. Como em qualquer meio, tinha sua turma, que não era necessaria­mente a de todos os chefs da França, às vezes até por divergênci­as conceituai­s levantadas por outros grupos.

Mas naquilo que fazia (não só no que falava) —até mesmo no prêmio que imodestame­nte levava seu nome— era sempre enaltecend­o cozinheiro­s, especialme­nte os franceses.

Discursos corporativ­os e nacionalis­tas são sempre fáceis, demagógico­s. Passar a uma prática em que o topo do prestígio adquiridos na profissão sejam colocados a favor desta mesma profissão e de seus colegas é o que raramente se vê, já que no mundo da cozinha é mais fácil imperar uma danosa competição.

O que se faz na Espanha, no Peru e no México, teve, percebam eles ou não, uma semente colocada pela atuação de décadas do superstar Paul Bocuse. Quem sabe um dia ela também dê frutos no Brasil.

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