Com premissa ambiciosa, monólogo ‘O Desmonte’ peca por inverossimilhança
FOLHA
Pestes urbanas que perturbam personagens solitários abundam na ficção: em “A Metamorfose”, de Franz Kafka, a barata é signo de tudo aquilo que escapa à moralidade; em “A Paixão Segundo G.H.”, de Clarice Lispector, o inseto cascudo atravessa os limites da linguagem.
Já no monólogo “O Desmonte”, do dramaturgo Amarildo Félix, um rato atormenta um homem anônimo interpretado por Vitor Placca. O roedor em questão, contudo, carece de força poética.
O personagem de Placca fracassa duplamente em superar o fim de um relacionamento e dar cabo da vida do animal, que escapa, ora como metáfora do amante, ora do ser amado —é a materialização da crise que rói as estruturas do apartamento onde vive o protagonista.
A premissa sugere um monólogo denso; a ideia é corroborada pela ambiciosa empreitada de Félix e Placca — informa o programa do espetáculo— de propor uma nova linguagem para um tema antigo: o amor. O resultado, contudo, soa anacrônico.
Em tempos de amor líquido e aplicativos de encontros, o lamento do personagem sobre o fim do enlace é carregado por um exagero literário que parece extraído de um folhetim do século 19. A rebuscada lamúria só é interrompida por uma voz feminina que, em tempos de WhatsApp, grava recados em uma secretária eletrônica.
Os elementos folhetinescos e o tom melodramático da dramaturgia de Félix, também diretor da montagem, dificultam o mergulho no drama do protagonista. Econômicos, por sua vez, o figurino, a iluminação e a cenografia tampouco colaboram para situar o espectador no imundo apartamento sugerido pelo texto.
Placca também é vítima desses obstáculos. Tem pouco espaço para criar —à exceção das poucas cenas em que personifica o roedor e acrescenta camadas mais interessantes à montagem.
Um súbito aumento de tom marca o terço final do solo: o lamento piegas dá lugar a uma frouxa crítica social. Há um notável esforço em estabelecer contato com a plateia, espelhar a fragmentação do universo íntimo do personagem no mundo exterior, e situar o espetáculo no tempo presente. A tonalidade pueril, contudo, compromete novamente a investida.
A verossimilhança não é um dogma que o teatro deve obedecer cegamente. Contudo, em “O Desmonte”, estabelecer um universo mais consistente, em detrimento de metáforas desgastadas e críticas rasas, ajudaria o espectador a compartilhar da dor do personagem.
Assim, o monólogo se assemelha a uma ratoeira enguiçada: da mesma forma que o rato escapa às mãos de Placca, o frágil drama não se sustenta e desmancha entre os elementos inverossímeis da dramaturgia. QUANDO seg. e ter., às 20h; até 27/2 ONDE Sesc Consolação - espaço beta, r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234 3000 QUANTO R$ 6 a R$ 20 CLASSIFICAÇÃO 14 anos AVALIAÇÃO regular
Sob o comando de Tiago Leifert, a Globo estreia nesta segunda (22) a 18ª edição do “Big Brother Brasil”, com 16 participantes que disputam o prêmio de R$ 1,5 milhão —a final será no dia 19 de abril.
Os novos moradores foram revelados na quinta (18) e, dessa vez, a produção do reality não selecionou nenhum morador do Rio de Janeiro — pelo menos por enquanto.
Há a expectativa de que se confine uma família inteira do Estado. No “BBB 17”, os gêmeos Emilly e Mayla e Antonio e Manoel participaram de uma disputa específica: a audiência escolheu apenas um irmão de cada par. Ficaram Manoel e Emilly, sendo essa última a grande vencedora da edição. BLEFES E MENTIRAS Segundo Rodrigo Dourado, diretor-geral do programa, a seleção dos novos BBBs levou quase um ano de pesquisa e mergulhou profundamente na cultura e na história de vida dos candidatos.
No comando do reality pelo segundo ano, Leifert afirma que, no “BBB”, o participante tem infinitas possibilidades de “se jogar” e isso o torna um dos games “mais fascinantes do mundo”.
“É possível jogar sozinho ou fazendo alianças. Dá pra ser campeão sem ganhar nenhuma prova. Precisa saber negociar, entender a fraqueza e a força dos oponentes. Globo