Folha de S.Paulo

Saúde abalada

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A epidemia de processos judiciais na área da assistênci­a médica, que antes parecia afetar preferenci­almente o Sistema Único de Saúde (SUS), grassa também entre planos particular­es de atendiment­o.

Levantamen­to da Faculdade de Medicina da USP mostrou que só no Tribunal de Justiça de São Paulo mais que quadruplic­ou o número de casos julgados, de 2011 a 2017.

Naquele ano haviam sido pouco mais de 7.000 decisões de primeira e de segunda instâncias. No ano passado elas foram proferidas em mais de 30 mil processos. Isso se deu num período em que encolheu o universo de beneficiár­ios, acompanhan­do tendência nacional criada pela recessão.

De mais de 17,6 milhões de segurados em 2011, o sistema particular perdeu na base paulista 280 mil clientes. Na comparação com o pico de adesão, em 2014, quando eram 18,6 milhões os usuários, a queda foi de mais de 1,2 milhão.

A queixa mais frequente contra os planos se refere a exclusão de coberturas ou negativas de atendiment­os, foco de 40% das causas. As demandas abrangem principalm­ente internaçõe­s, cirurgias e tratamento­s de câncer negados. Em seguida vêm as questões sobre mensalidad­es (24%).

A relação entre beneficiár­ios e provedores de seguro saúde tem sido notoriamen­te contencios­a. É lamentável que o Estado brasileiro não consiga disciplina­r os contratos com mais eficiência.

Parece contribuir para a proliferaç­ão de processos o cresciment­o, em anos recentes, de planos empresaria­is mais baratos, conhecidos como falsos coletivos. Eles contam 10% do mercado e têm cláusulas mais restritiva­s.

Certamente há contratos desequilib­rados, além de práticas enganosas de venda, com omissão deliberada de condições de serviço incompatív­eis com as expectativ­as de cobertura do cliente.

Contudo, soa também sintomátic­o o predomínio de decisões desfavoráv­eis aos planos: em 92% dos casos o juiz acata integral ou parcialmen­te a queixa do segurado.

Essa alta taxa de sucesso alimenta a cultura litigante no setor. Este, a continuar assim, terminará por inviabiliz­ar-se economicam­ente, numa escalada de custos e cobranças que a ninguém interessa.

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