Folha de S.Paulo

‘Brigão’, prefeito defende pedido de tropas

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DA ENVIADA A PORTO ALEGRE

“Quero mudar o mundo!”, diz Nelson Marchezan Jr. (PSDB) em sua descrição do Twitter. Na mesma rede social, o prefeito de Porto Alegre parece mais apto a alterar o humor de petistas.

O mais recente quiproquó se deu com a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, que na semana passada o definiu como “prefeito fake news” nas bandas virtuais.

A senadora se referia ao episódio que pôs Marchezan no noticiário nacional e na linha de fogo da esquerda, quando ele enviou ofício ao presidente Michel Temer no terceiro dia de 2018.

Com expressões como “ameaça de ocupação” e “desobediên­cia civil”, a carta solicitava apoio das Forças Armadas “em razão do iminente perigo à ordem pública” que, segundo ele, se avizinhava com o julgamento de Lula.

Marchezan não deixou barata a estocada da petista. “Chinfrim é ser corrupto e nariz empinado. Fake é a origem do patrimônio dos teus comparsas. [...] E tu, por que não te calas? Cara de pau”, tuitou.

A escolha de palavras não foi gratuita: Gleisi é chama- da de Narizinho por militantes da direita.

O prefeito recebeu a Folha em seu gabinete na segunda (22). Jura que não pretende dar as caras no CarnaLula, para o qual foi convidado pelo MBL (Movimento Brasil Livre), ao qual é ligado.

Marchezan reitera que, sim, ter o Exército na área é legítimo diante “da tensão que poderia ou pode vir a ocorrer”, dadas as “manifestaç­ões violentas postas nas redes sociais”.

Ele lembra que o próprio presidente do TRF-4 disse que juízes da corte têm recebido ameaças, com alguns deles enviando familiares para fora do Estado. Vai que um “lobo solitário” decide agir após ouvir Gleisi falar que “para prender o Lula, vai ter que matar gente”.

Declaraçõe­s assim, diz Marchezan, “podem ter se passado no calor do momento”, mas há sempre o risco que “alguém interprete isso como um chamamento”.

A conversa com o prefeito é entrecorta­da pelo barulho de um ato na frente da prefeitura, com manifestan­tes de branco, quase todos de religiões afrobrasil­eiras —mais a faixa “paganismo presente contra intolerânc­ia religiosa”.

Funcionári­os contam que protestos contra Marchezan são de praxe. Num período, “foram 40 dias seguidos de fuzuê”, diz um deles, perto de uma mesinha ao lado do gabinete do prefeito, onde há livros à disposição dos servidores (o Novo Testamento, “Nos Passos de Jesus”, de Edir Macedo e “O Zahir”, de Paulo Coelho).

O tucano é bom em fazer inimigos. Deu uma de suas declaraçõe­s mais polêmicas no congresso anual do MBL, em novembro, ao dizer “aqui entre nós” que “todo parlamenta­r é cagão”. Vereadores pediram “equilíbrio emocional” do chefe do Executivo.

“Tenho uma marca que é a espontanei­dade, a transparên­cia”, diz o prefeito de 46 anos (“pareço menos, né?”), já comparado a “youtuber” e “dublê de João Doria”.

Em junho, jogou as mãos para o alto para dançar o hit “Despacito”.

A coreografi­a empolgou sua militância, mas também lhe rendeu certa dor de cabeça, como um protesto em que servidores municipais trocaram “despacito” por “Marchezito”.

(ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R)

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Marlene Bergamo/Folhapress O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. (PSDB)

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