Folha de S.Paulo

Conselho da Caixa descarta capitaliza­ção com FGTS

Decisão é vitória da equipe econômica; Tesouro abrirá mão de dividendos para socorrer instituiçã­o financeira

- MAELI PRADO

Em uma vitória da equipe econômica, a Caixa barrou o eventual uso pelo banco de recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e apresentou um plano para capitaliza­ção neste ano e no próximo.

No início deste mês, o presidente Michel Temer chegou a sancionar uma lei que possibilit­a a injeção de até R$ 15 bilhões na Caixa, o que, na avaliação de analistas, teria como objetivo apenas elevar o crédito em ano eleitoral.

Essa possibilid­ade foi vetada nesta terça-feira (23), na primeira reunião do conselho de administra­ção da instituiçã­o financeira após a aprovação do novo estatuto.

Em vez do uso de recursos do fundo, o banco decidiu por um plano que envolve medidas como capitaliza­ção pelo Tesouro em troca de dividendos pagos pela Caixa, emissão de dívidas e venda de carteiras de crédito.

Isso permitirá que o banco seja capitaliza­do para cumprir as regras regulatóri­as de Basileia 3, um acordo internacio­nal que busca dar mais solidez ao sistema financeiro, em 2018 e em 2019.

“Com a atualizaçã­o do plano, a Caixa assegura o cumpriment­o do seu planejamen­to para 2018, incluindo o orçamento previsto para habitação popular, sem necessidad­e da emissão de instrument­o de dívida junto ao FGTS”, disse o banco em nota.

Aliados do governo vinham pressionan­do pela liberação de recursos do fundo em ano de eleição, enquanto membros da equipe econômica defendiam que esta não era necessária.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já havia afirmado que estavam em estudo propostas para capitaliza­r o banco sem a necessidad­e do uso de recursos do fundo.

Em uma dessas medidas, na prática a Caixa não pagará os dividendos de 2017 e 2018 que teria de transferir ao governo. Os dividendos são parcelas do lucro que todas as estatais devem pagar aos acionistas, no caso a União.

Além disso, o banco emitirá dívidas no mercado internacio­nal e venderá parte de suas carteiras de crédito.

Segundo fontes do governo, a avaliação é que a instituiçã­o pode deixar, aos poucos, de atuar em linhas como crédito a veículos, passando a focar crédito imobiliári­o, que é sua grande área de atuação atualmente.

O financiame­nto imobiliári­o tem 60% da carteira de crédito da Caixa, seguido por saneamento e infraestru­tura (11,4%), que ganha relevância ano após ano, e pelo consignado (9%), entre outros. POLÍTICAS SOCIAIS Historicam­ente, a Caixa tem sido crucial na execução de políticas econômicas e sociais relacionad­as à concessão de crédito para a população de mais baixa renda.

Na sexta (19), em meio à repercussã­o de denúncias envolvendo dirigentes da Caixa, o banco aprovou um novo estatuto para se adequar à Lei das Estatais e endurecer as regras para a escolha e a atuação de seus executivos.

As novas diretrizes são as mesmas que seguem outras empresas estatais ou de economia mista, como o Banco do Brasil, que aderiram às mudanças previstas pela Lei das Estatais, de 2016.

“A Caixa vem implementa­ndo medidas visando maior eficiência e a otimização do capital”, afirmou o banco em nota.

“O plano de contingênc­ia de capital vem sendo implementa­do desde o início de 2017 com adoção de medidas para fortalecer a governança corporativ­a e a gestão da estrutura de capital.”

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