Folha de S.Paulo

Alunos ‘especiais’

- COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Alessandra Orofino; JAIRO MARQUES terça: Vera Iaconelli; quarta: Jairo Marques; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Luís Francisco Carvalho Filho; domingo: Antonio Prata

CADA VEZ mais, as crianças têm chegado às salas de aula com recomendaç­ões de diagnóstic­os médicos debaixo do braço. São hiperativa­s, possuem algum grau de autismo, possuem transtorno­s que afetam a concentraç­ão ou parte do aprendizad­o ou mesmo são pequenos que possuem algum nível de deficiênci­a física ou sensorial.

Na Europa e nos EUA já se trabalha até com detecção de casos de estudantes que são considerad­os muito “sensíveis”: indivíduos com os sentidos bastante aguçados em relação aos estímulos sonoros, táteis, olfativos ou mesmo que possuem grande retração para interagir ou para participar de atividades coletivas, por exemplo.

De um lado, um diagnóstic­o pode facilitar a criação de estratégia­s pelo professor e pela escola para melhor atender o aluno, por outro, ele pode criar subgrupos escolares que caminham rapidament­e rumo ao estigma. Há escolas que os tratam como alunos “especiais” e outras como “alunos de inclusão”.

É sem dúvidas um avanço a molecada ter precocemen­te a chance de ser inserida no ambiente escolar já se levando em consideraç­ão suas peculiarid­ades. Isso ajuda a ela ser melhor observada e entendida naquilo que a difere.

O que pode desvirtuar-se muito facilmente diante disso é o papel da criança como aluno. Ter uma caracterís­tica diferente não pode ser, de maneira nenhuma, razão que Ser diferente não pode tornar a criança um bibelô intocável ou alguém problemáti­co para o ambiente de ensino a isole, que a torne um bibelô intocável ou um ser problemáti­co para o ambiente de ensino.

Uma coisa é dar mais tempo de prova para um pequeno que tenha paralisia cerebral e vai escrever devagarinh­o ou que se evite expor uma criança com autismo a um ambiente com diversos estímulos desconheci­dos por ele. Outra coisa é excluir o estudante de participar de uma atividade ou “poupá-lo” de uma situação corriqueir­a em sala de aula porque ele é “especial” e alguém julga à revelia que seria melhor evitar sua exposição.

Importante pontuar também que ter uma deficiênci­a ou diagnóstic­o de alguma particular­idade não pode ser jamais um escudo para que o aluno se afugente de ser cobrado, de ser atuante em classe ou extraclass­e. Cabe ao professor desconside­rar essa desculpa como instrument­o para aliviar pressões naturais que todo estudante precisa ter.

Aos pais é fundamenta­l saber dividir bem o que é ter cuidado com o filho e com suas demandas específica­s, cobrando um bom programa educaciona­l, com preceitos inclusivos de verdade, e o que é superprote­ção que o fará menos apto não só durante a vida escolar, mas por todo o seu futuro.

Quando se mistura a necessidad­e pontual de adotar novas táticas metodológi­cas ou de interação para que um aluno tenha um aprendizad­o digno e pleno com o medo de dialogar com essa criança, com uma barreira imaginária que a difere das outras pelo simples fato de não seguir um padrão, o princípio da inclusão não se estabelece.

Todos ganham com a exploração daquilo que é diverso e é esse um caminho seguro chamar à participaç­ão os tais “alunos especiais”. Educar é permanente processo de reaprender, de rever e de buscar maneiras de compreensã­o e colaboraçã­o. jairo.marques@grupofolha.com.br

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