Multas por homofobia renderam R$ 4 mi à Fifa nas eliminatórias
Comparado a orçamento da entidade e arrecadação das federações, valor das punições é irrisório
CBF foi punida cinco vezes e teve de pagar R$ 334 mil; Chile foi o mais penalizado e teve até estádio interditado
Os gritos homofóbicos de torcedores de 15 países fizeram a Fifa arrecadar 1,27 milhão de francos suíços (R$ 4,3 milhões) em multas durante a disputa das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, entre 2015, quando a entidade começou a monitorar as partidas para esse tipo de atitude, e 2017.
Do montante, 100 mil francos suíços (R$ 334 mil) foram pagos pela CBF, multada cinco vezes. O valor, porém, é irrisório se comparado com a arrecadação que a confederação teve nas partidas.
Só no jogo contra o Chile, em 10 de outubro, no Allianz Parque —em que a CBF foi multada em 10 mil francos suíços (R$ 33,8 mil) por gritos homofóbicos da torcida— a entidade arrecadou R$ 15,1 milhões em ingressos.
A confederação também recebeu punições nos jogos contra Colômbia, Bolívia, Paraguai e Equador. Todas as multas já foram pagas.
Para evitar que as sanções se repetissem, a CBF promoveu campanhas antes e depois das partidas da seleção. Mensagens pedindo “respeito” eram exibidas nos telões.
Segundo a Fifa, todo o dinheiro arrecadado com multas é revertido para projetos sociais da entidade ou para atividades de desenvolvimento do futebol pelo mundo.
Os cerca de R$ 4 milhões arrecadados fazem pouca diferença para os gastos da Fifa. Entre os anos de 2015 e 2018, ela estima ter despendido US$ 1,6 bilhão (R$ 5,17 bilhões) com essas atividades, segunda consta em seu informe financeiro.
Na Copa do Mundo, a Fifa já informou que não tolerará atitudes discriminatórias por parte dos torcedores, sejam estas homofóbicas ou raciais. Os árbitros serão orientados inclusive a paralisar as partidas em caso de mau comportamento dos espectadores.
A mesma orientação já havia sido feita na Copa das Confederações de 2017, mas nenhuma paralisação foi necessária. O México, porém, foi advertido por causa de alguns gritos isolados no empate em 2 a 2 com Portugal.
No jogo seguinte, contra a Nova Zelândia, a torcida mexicana agiu de forma irônica e trocou os gritos de “puto” (palavra usada, em espanhol, para se referir de forma pejorativa a homossexuais) por aplausos a cada tiro de meta cobrado pelo adversário. AMÉRICA LATINA De todas as nações sancionadas por homofobia durante as eliminatórias, as únicas que não fazem parte da América Latina, onde são comuns os gritos homofóbicos, são Grécia, Hungria e Sérvia.
Quem mais sofreu por causa do comportamento da torcida na questão da homofobia foi a federação chilena.
Além de receber dez multas, no total de 234 mil francos suíços (R$ 794 mil), a entidade local foi proibida de sediar por duas rodadas as partidas da seleção no Estádio Nacional de Santiago.
O México também teve de pagar nove multas. E este número só não foi maior porque a federação do país apelou à CAS (Corte Arbitral do Esporte) e saiu vitoriosa.
O órgão mandou a Fifa retirar as sanções de 20 mil francos suíços (R$ 67 mil) de um jogo contra El Salvador, em novembro de 2015, e outros 15 mil francos suíços (R$ 50 mil) de partida contra o Canadá, em março de 2016.
Na decisão do último mês de novembro, a CAS entendeu que “a intenção dos fãs mexicanos não era ofender ou discriminar nenhuma pessoa em específico”, mas afirmou que “o canto ainda poderia ser considerado discriminatório e não deveria ser tolerado em estádios”.
A corte indicou que naquele momento as multas eram desproporcionais, pois, em episódios anteriores, a Fifa não indicou à federação mexicana que os cantos eram contra o seu regulamento.
A decisão deixou claro, porém, que caso houvesse repetição de gritos homofóbicos a aplicação da multa seria justa. Tanto que as sanções depois destas iniciais foram mantidas pela corte.