Folha de S.Paulo

Convertida ao samba, Maria Rita vai contra o mercado

‘Amor e Música’ reúne instrument­istas da nova geração para repertório que tem inédita do lendário Batatinha

- THALES DE MENEZES

“Amor e Música” é uma afirmação de Maria Rita no papel de sambista. Depois de “Coração a Batucar” (2014), feito em estúdio, e “O Samba em Mim” (2016), ao vivo, segue apaixonada pelo gênero.

O novo disco tem 12 faixas e uma ficha técnica que traz arranjador­es do primeiro time do samba atual, como Wilson Prateado e Jota Moraes, e instrument­istas requisitad­os para os discos mais interessan­tes da MPB recente, como o baixista Alberto Continenti­no e o guitarrist­a Davi Moraes, marido da cantora.

Maria Rita diz que não sente falta das canções de outros gêneros que cantou no início da carreira que já passa de 15 anos. “Nos últimos tempos, tenho sentido desafio maior nas melodias, nas letras, na poesia do samba. Com a música me desafiando, eu sou uma cantora melhor. E um ser humano melhor.”

Em entrevista à Folha, ela define sua ligação com o samba como nada mercadológ­ica. “Se fosse me guiar pelo mercado, não seria por aí, já que a fatia da indústria fonográfic­a para o samba é minúscula. Não tem oportunism­o, é experiênci­a espiritual.”

O samba aparece forte até em “Pra Maria”, contribuiç­ão de Marcelo Camelo, “fornecedor” constante da cantora.

Maria Rita acha que cometeu uma ousadia na faixa que dá título ao álbum. “Peguei MARIA RITA cantora ‘Amor e Música’, do Moraes Moreira e do Luiz Paiva, que não é um samba, mas nela eu vi um samba escandalos­o, pirotécnic­o. Davi fez uma versão bolero que está como bônus no lançamento digital.” HITS Os bons discos de samba das últimas temporadas, de uma lista que pode incluir Maria Rita, Diogo Nogueira e Roberta Sá, não conseguem emplacar hits isolados.

A obra desses artistas ganha relevância e vendagem de discos, mas sem o grande estouro de uma das faixas.

Entre músicas de seus parceiros de banda Davi e Fred Camacho, do amigo Pretinho da Serrinha e dos veteranos Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho (é dele a inédita “Nem por um Segundo”), “Amor e Música” tem sambas que seriam hits em outros tempos.

Maria Rita vê uma pulverizaç­ão no mercado. “Você lança álbum com 12 ou 13 faixas e sabe lá o que vai acontecer com elas. Não é uma crítica, mas me entristeço. Querer que alguém pare para ouvir um álbum é pedir demais.”

Mas “Amor e Música” traz um momento especial, que Maria Rita define como um presente que não consegue agradecer com palavras. É “Samba e Swing”, música inédita do lendário sambista baiano Batatinha (1924-1997).

A família do compositor, espontanea­mente, deu a música à cantora, que chega a chorar ao contar o episódio na entrevista. “A gente pode ter medos, inseguranç­as, enfrentar problemas com o mercado, tanta coisa, e aí vem uma bênção dessas, um legado que deixo para os meus filhos. Uma lição de humildade que vem do universo!”

A turnê de “Amor e Música” começará em março.

Minha banda é demais. Olho em volta e penso que preciso comer muito arroz e feijão, e mais alguma farinha, para chegar perto deles

ARTISTA Maria Rita LANÇAMENTO Universal Music QUANTO R$ 35 (CD)

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