‘Os Farofeiros’ acerta em transição das comédias da bonança para o país da crise
FOLHA
O público brasileiro já se acostumou aos filmes de Roberto Santucci. Foi ele quem dirigiu algumas das maiores bilheterias nacionais dos últimos anos, como “De Pernas Pro Ar” (1 e 2) e “Até Que a Sorte nos Separe” (1, 2 e 3).
É por isso que “Os Farofeiros” chega para ser o recordista do verão. O janota Alexandre mete-se em uma encrenca e vai passar o réveillon com colegas da firma – mais pobres do que ele. A esposa histérica e os filhos vão no pacote. Acabam se hospedando em uma casa caindo aos pedaços.
Era para ser a repetição de tudo o que vimos antes. Ou seja, mais uma “moneychanchada”: universo no qual Santucci tornou-se especialista e que teve rebentos, como “Tô Ryca!” (2016), de Pedro Antônio.
Nas “moneychanchadas” o culto ao dinheiro substitui o culto ao sexo. Em vez de nos apaixonarmos por ícones como David Cardoso ou Helena Ramos, amamos a ascensão social.
No entanto, leitores, surgem novidades. “Os Farofeiros” faz uma transição. Os filmes anteriores de Santucci falavam do Brasil forte economicamente, repleto de promessas.
“Os Farofeiros” é do país da ressaca, o país da crise. Os colegas de repartição estão ameaçados de perder o emprego.
Existe, ainda, uma diferença desconcertante entre a família de Alexandre e as dos demais. Alexandre incorpora a classe média, no eterno céu e inferno das escolhas. Viajar para um resort em Búzios ou para onde couber o orçamento?
Enquanto isso, os mais pobres adaptam-se às circunstâncias. Búzios fica em outra galáxia, aceitemos o casebre tosco. Esse embate é o coração da história.
O roteiro de Odete Carmico e Paulo Cursino, apesar de afiado, leva a uma visão muito idealizada da sociedade carioca em que os personagens estão inseridos: a de que, acima de qualquer diferença de classes ou de posições, existirá sempre um denominador comum possível entre todos.
Cria-se uma “brodagem” para adocicar as diferenças. Alexandre canta no pagode, as mulheres ricas ou pobres estranham-se para depois rirem juntas e de si mesmas. Já passou a hora de o cinema esquecer os mitos antigos da cordialidade brasileira, escancarando, através do humor, o país complexo e partido em que vivemos.
Citações a “Minha Mãe É Uma Peça” e deboches a granel —vide a sequência do monstro na piscina verde— agradam bastante e deixam um bom panorama. Conseguem provar que, sim, o cinema ainda pode ser a maior diversão. DIREÇÃO Roberto Santucci ELENCO Maurício Manfrini, Cacau Protásio, Danielle Winits PRODUÇÃO Brasil, 2018; 12 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO bom
O Metropolitan Opera de Nova York demitiu nesta segunda (12) o famoso regente James Levine, após uma investigação de mais de três meses tê-lo atrelado a casos de assédio e abuso sexual.
Levine atuava como diretor musical emérito e diretor artístico do programa da instituição para jovens, mas estava afastado do cargo desde dezembro, após reportagem do New York Times trazer à tona denúncias sobre ele.
À publicação, quatro homens afirmaram terem sofrido abusos de Levine décadas atrás, quando eram adolescentes ou estudantes.
“A apuração encontrou evidências credíveis de que Sr. Levine se envolveu em conduta sexualmente abusiva e assediante antes e durante o período em que ele trabalhou no Met”, disse a companhia.
Segundo a instituição, a apuração considerou depoimento de mais de 70 entrevistados e revelou que parte dos casos de abuso e assédio se deram contra artistas vulneráveis em estágios iniciais de suas carreiras. A defesa dele não comentou as acusações.
Ele era considerado o maior maestro americano desde Leonard Bernstein (1918-90). Ele atuou por mais de quatro décadas no Metropolitan Opera, a maior organização de artes cênicas dos EUA.