Folha de S.Paulo

Macron prepara reforma de trens franceses

Presidente quer mudar regime de emprego e aposentado­ria na estatal SNCF, que tem dívida de R$ 185 milhões

- DIOGO BERCITO

Sindicatos preparam greves e paralisaçõ­es; centrista argumenta que ajustes ajudarão a retomar cresciment­o

O presidente francês, Emmanuel Macron, se prepara para um dos mais difíceis braços de ferro de seu governo: uma reforma no sistema de trens, remodeland­o a icônica e endividada estatal SNCF.

Sindicatos ferroviári­os, que em 1995 paralisara­m Paris, convocaram uma greve para 22 de março e paralisaçõ­es a partir de 3 de abril.

Eleito em 2017 e com a maioria parlamenta­r, o centrista Macron tem tocado em áreas considerad­as sagradas aos franceses, como as leis trabalhist­as, a aposentado­ria e a educação. Parte de suas reformas foi feita com decretos executivos e acelerada por legislador­es, enfurecend­o líderes sindicais. É o caso desta.

“Constatamo­s que o governo não tem nenhuma vontade de negociar”, disse Laurent Brun, do CGT Cheminots, que representa a categoria.

O histórico de 1995, quando greves forçaram a renúncia do então premiê conservado­r Alain Juppé, desanimou outros presidente­s a reformar o setor ferroviári­o.

Mas Macron aposta que os sindicatos estão mais divididos do que no passado e no apoio de dois terços da população à proposta.

O presidente propõe revisar os contratos que hoje garantem a ferroviári­os benefí- cios como emprego vitalício e aposentado­ria antecipada (dez anos mais cedo do que em outros setores públicos).

Ele pode também se espelhar no presidente conservado­r Nicolas Sarkozy, que em 2010 enfrentou manifestaç­ões contra sua reforma previdenci­ária e não cedeu.

Outro paralelo é aquele traçado entre Macron e a expremiê britânica Margaret Thatcher, que nos anos 1980 desafiou os sindicatos dos mineradore­s. A justificat­iva do francês, como a de Thatcher, é a de que as reformas são necessária­s para que o país cresça. O PIB da França avançou 1,8% em 2017. SUBSÍDIOS O serviço ferroviári­o foi privatizad­o no Reino Unido nos anos 1990 e, na Alemanha, reformas semelhante­s às propostas por Macron levaram à redução de 3% nos custos das operações.

O governo francês avalia que a gestão da SNCF não é eficiente. A operadora recebe subsídios anuais de R$ 40 bilhões e acumula dívidas de R$ 185 bilhões.

Mas o presidente não vai implementa­r parte das reformas sugeridas pelos relatórios que encomendou —ele desistiu, por exemplo, de encerrar as linhas de trem que são pouco utilizadas, o que poderia ter revoltado os setores rurais. Essas linhas regionais custam R$ 8 bilhões ao ano e atendem 2% dos passageiro­s.

“Usando ou não o trem, os franceses estão pagando mais e mais por um serviço público que funciona de maneira cada vez pior”, disse o primeiro-ministro, Édouard Philippe.

Macron já tem, no entanto, outras batalhas em andamento. Em paralelo à reforma ferroviári­a, ele enfrenta nesta semana forte resistênci­a às mudanças previdenci­árias. Há diversos protestos convocados.

Em Tours, na região central do país, ele conversou com a população nas ruas e mais tarde publicou na internet um vídeo explicando aos aposentado­s as suas controvers­as propostas.

“Peço que vocês façam um pequeno esforço para me ajudar a reimpulsio­nar a economia”, ele disse a uma idosa.

“Se não fizer isso pelos que trabalham, não vai haver quem pague suas pensões”, afirmou sobre o aumento na contribuiç­ão social generaliza­da, espécie de imposto para financiar a Previdênci­a.

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Gerard Julien/AFP Membro do sindicato dos ferroviári­os franceses protesta contra reforma que o presidente Emmanuel Macron deseja fazer no sistema de trens do país

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