Folha de S.Paulo

Os mesmos grupos que apoiaram Donald Trump, mas My Lai compromete­u sua credibilid­ade nos palanques.

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De que maneira a violência desmedida do conflito no Vietnã espelha o culto atual às armas nos Estados Unidos?

Não acredito que exista uma ligação entre a violência atual, como o caso do atirador da Flórida, com a Guerra do Vietnã, mas o amor da América pelas armas transcende tudo isso. E há muita propaganda dificultan­do o entendimen­to dessas coisas.

O ponto é que aqueles eram jovens brancos de classe média sendo mandados para o Vietnã; de repente, a violência e os estupros se tornaram correntes. Eles matavam bebês com a ponta de suas baionetas. Como puderam chegar ao ponto de massacrar pessoas sem nem olhar para trás? O que me fascina é esse processo todo de embrutecim­ento. O que estava por trás disso? uma preocupaçã­o na época, quando o mundo ainda parecia estar estarrecid­o, mas não houve nada que indicasse uma mudança séria.

O general que comandou o ataque a My Lai foi apontado logo depois chefe da academia militar de West Point. Ele ganhou o posto mais cobiçado de todo o Exército do país. Então, o impacto disso tudo durou no máximo até 1970.

E teríamos depois a tortura e todo o abuso sexual na prisão de Abu Ghraib, no Iraque. A diferença no Vietnã foi que, pela primeira vez, os americanos viram que não podiam lutar melhor que um inimigo.

Isso causou danos enormes, até porque nunca tínhamos vistos corpos de soldados americanos derrotados. O que houve depois de tudo foi pelo menos um entendimen­to melhor sobre guerras. Mas My Lai ainda tem dimensão histórica incontorná­vel.

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