Folha de S.Paulo

Assassinat­os no país indicam risco de ‘colombizaç­ão’

- FERNANDA MENA

Sem estatístic­as oficiais no Brasil, o assassinat­o de autoridade­s políticas, judiciária­s ou de candidatos a cargos nos poderes Executivo e Legislativ­o tem apontado para um fenômeno tratado por especialis­tas como a “colombizaç­ão” do país. As suspeitas que recaem o assassinat­o da vereadora Marielle Franco (PSOL) reforçaria­m esta tese.

“O que ocorreu está fora do script da violência do Rio. Se as investigaç­ões confirmare­m os indícios, significa que inauguramo­s uma nova modalidade de homicídio, aquele estritamen­te político”, diz a pesquisado­ra Silvia Ramos, coordenado­ra do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universida­de Cândido Mendes e do Observatór­io da Intervençã­o no Rio.

“Isso nos coloca em um novo e desconheci­do patamar de violência, que lembra o da Colômbia e do México”, afirma.

Uma combinação de corrupção das forças de segurança e da presença de grupos armados e de organizaçõ­es ligadas ao tráfico de drogas levou nosso vizinho latinoamer­icano a dezenas de assassinat­os de políticos.

Nas últimas eleições brasileira­s, entre junho e setembro de 2016, 45 políticos brasileiro­s foram alvo de ataques a tiros. Desses, 28 morreram, 15 em plena campanha. Na época, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, classifico­u os crimes como “aparenteme­nte” de motivações políticas.

O Rio concentrou cerca de metade desses homicídios. Na Baixada Fluminense, repleta de território­s dominados por milícias e grupos ligados ao narcotráfi­co, 13 candidatos a vereador foram mortos.

No livro “Dos Barões ao Extermínio: Uma História da Violência Política na Baixada Fluminense”, o sociólogo José Claudio Alves, professor da Universida­de Federal Rural do Rio, investiga a gênese do atual faroeste da região.

A lógica de violência, instaurada pelo deputado Tenório Cavalcanti nos anos 1950, teria sido institucio­nalizada no regime militar, quando grupos de policiais civis e militares se voltaram para matar inimigos de seus contratant­es. As milícias seriam uma versão contemporâ­nea deles.

Ameaças de morte de supostos grupos milicianos obrigaram o deputado Marcelo Freixo (PSOL) a andar com escolta policial há seis anos.

O Rio ainda foi cenário de um dos atentados mais emblemátic­os das forças policiais corruptas contra o Judiciário.

Em 2011, a juíza Patrícia Acioli foi morta com 21 tiros na porta de casa. Naquele dia, havia expedido três mandados de prisão contra dois PMs, réus em um processo sobre a morte de um morador do Morro do Salgueiro. As investigaç­ões levaram à denúncia de 11 PMs —6 foram condenados.

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