Assassinatos no país indicam risco de ‘colombização’
Sem estatísticas oficiais no Brasil, o assassinato de autoridades políticas, judiciárias ou de candidatos a cargos nos poderes Executivo e Legislativo tem apontado para um fenômeno tratado por especialistas como a “colombização” do país. As suspeitas que recaem o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) reforçariam esta tese.
“O que ocorreu está fora do script da violência do Rio. Se as investigações confirmarem os indícios, significa que inauguramos uma nova modalidade de homicídio, aquele estritamente político”, diz a pesquisadora Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes e do Observatório da Intervenção no Rio.
“Isso nos coloca em um novo e desconhecido patamar de violência, que lembra o da Colômbia e do México”, afirma.
Uma combinação de corrupção das forças de segurança e da presença de grupos armados e de organizações ligadas ao tráfico de drogas levou nosso vizinho latinoamericano a dezenas de assassinatos de políticos.
Nas últimas eleições brasileiras, entre junho e setembro de 2016, 45 políticos brasileiros foram alvo de ataques a tiros. Desses, 28 morreram, 15 em plena campanha. Na época, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, classificou os crimes como “aparentemente” de motivações políticas.
O Rio concentrou cerca de metade desses homicídios. Na Baixada Fluminense, repleta de territórios dominados por milícias e grupos ligados ao narcotráfico, 13 candidatos a vereador foram mortos.
No livro “Dos Barões ao Extermínio: Uma História da Violência Política na Baixada Fluminense”, o sociólogo José Claudio Alves, professor da Universidade Federal Rural do Rio, investiga a gênese do atual faroeste da região.
A lógica de violência, instaurada pelo deputado Tenório Cavalcanti nos anos 1950, teria sido institucionalizada no regime militar, quando grupos de policiais civis e militares se voltaram para matar inimigos de seus contratantes. As milícias seriam uma versão contemporânea deles.
Ameaças de morte de supostos grupos milicianos obrigaram o deputado Marcelo Freixo (PSOL) a andar com escolta policial há seis anos.
O Rio ainda foi cenário de um dos atentados mais emblemáticos das forças policiais corruptas contra o Judiciário.
Em 2011, a juíza Patrícia Acioli foi morta com 21 tiros na porta de casa. Naquele dia, havia expedido três mandados de prisão contra dois PMs, réus em um processo sobre a morte de um morador do Morro do Salgueiro. As investigações levaram à denúncia de 11 PMs —6 foram condenados.