‘Sou trabalhadora e saí jorrando sangue’, diz professora
Educadora infantil da zona leste de SP teve o nariz quebrado por GCM durante protesto na Câmara Municipal
“Sou uma trabalhadora, fui me manifestar pelos meus direitos e saí jorrando sangue”. A professora de ensino infantil Luciana Xavier, 41, levou um golpe de cassetete no nariz na quarta-feira (14) enquanto protestava no salão nobre da Câmara Municipal contra o projeto de lei de reforma da previdência da gestão João Doria (PSDB).
Encaminhada para o hospital, Luciana descobriu que teve o nariz quebrado, mas ainda não sabe se terá que passar por cirurgia. Além dela, diversos outros manifestantes ficaram feridos.
Educadora em uma creche em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, ela trabalha na rede pública há 13 anos e ensina crianças entre 2 e 6 anos de idade.
A foto em aparece com o rosto ensanguentado propagou-se como símbolo das agressões sofridas por servidores durante a manifestação.
“Estávamos gritando palavras de protesto, como ‘retira’, porque queremos que o projeto não seja votado. Algumas pessoas começaram a gritar mais alto, mas nada mais agressivo estava acontecendo até entrar a tropa de choque da guarda municipal. Eu estava bem na frente dos vereadores. E então eu só lembro da mão com o cassetete em direção ao meu rosto”, relembra a professora.
“Não senti dor, fiquei calma. Acho que meu corpo entrou em estado de choque e fui notar a gravidade a partir do zumbido alto que começou no meu ouvido. O bombeiro me amparou e então fui levada para o hospital por uma assessora do vereador [Eduardo] Suplicy (PT). Daí comecei a sofrer com a dor.”
Apaixonada por seu trabalho com crianças, a educadora não quer destaque para o seu caso —ela diz que encontrou diversos outros docentes machucados no hospital. Mas espera repercussão positiva do ocorrido.
O texto da reforma, em trâmite na Câmara, prevê a elevação da contribuição previdenciária de 11% para 14%, além da instituição de contribuição suplementar vinculada ao salário do servidor.
Assim, o desconto poderá chegar a 18,2%, segundo a prefeitura. A gestão defende que, sem a alteração, a sustentabilidade da previdência municipal é inviável.
A Câmara informou que eventuais excessos das forças de segurança serão apurados.
A GCM afirmou nesta quinta (15) que “lamenta o fato de que, ao agir para proteger o patrimônio público e os vereadores de tentativas de agressão, [...] tenha havido o ferimento de uma das manifestantes. Na mesma data foi instaurado procedimento administrativo para apuração de todos os fatos.”
A PM afirmou que ficou só do lado de fora da Câmara e que a intervenção foi necessária devido ao tumulto, mas que ninguém foi detido.
Nesta quinta (15), milhares de professores e outros servidores municipais fizeram novo protesto em frente à Câmara, durante audiência pública sobre o projeto de lei —não houve confrontos.