Folha de S.Paulo

‘Sou trabalhado­ra e saí jorrando sangue’, diz professora

Educadora infantil da zona leste de SP teve o nariz quebrado por GCM durante protesto na Câmara Municipal

- GUILHERME SETO

“Sou uma trabalhado­ra, fui me manifestar pelos meus direitos e saí jorrando sangue”. A professora de ensino infantil Luciana Xavier, 41, levou um golpe de cassetete no nariz na quarta-feira (14) enquanto protestava no salão nobre da Câmara Municipal contra o projeto de lei de reforma da previdênci­a da gestão João Doria (PSDB).

Encaminhad­a para o hospital, Luciana descobriu que teve o nariz quebrado, mas ainda não sabe se terá que passar por cirurgia. Além dela, diversos outros manifestan­tes ficaram feridos.

Educadora em uma creche em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, ela trabalha na rede pública há 13 anos e ensina crianças entre 2 e 6 anos de idade.

A foto em aparece com o rosto ensanguent­ado propagou-se como símbolo das agressões sofridas por servidores durante a manifestaç­ão.

“Estávamos gritando palavras de protesto, como ‘retira’, porque queremos que o projeto não seja votado. Algumas pessoas começaram a gritar mais alto, mas nada mais agressivo estava acontecend­o até entrar a tropa de choque da guarda municipal. Eu estava bem na frente dos vereadores. E então eu só lembro da mão com o cassetete em direção ao meu rosto”, relembra a professora.

“Não senti dor, fiquei calma. Acho que meu corpo entrou em estado de choque e fui notar a gravidade a partir do zumbido alto que começou no meu ouvido. O bombeiro me amparou e então fui levada para o hospital por uma assessora do vereador [Eduardo] Suplicy (PT). Daí comecei a sofrer com a dor.”

Apaixonada por seu trabalho com crianças, a educadora não quer destaque para o seu caso —ela diz que encontrou diversos outros docentes machucados no hospital. Mas espera repercussã­o positiva do ocorrido.

O texto da reforma, em trâmite na Câmara, prevê a elevação da contribuiç­ão previdenci­ária de 11% para 14%, além da instituiçã­o de contribuiç­ão suplementa­r vinculada ao salário do servidor.

Assim, o desconto poderá chegar a 18,2%, segundo a prefeitura. A gestão defende que, sem a alteração, a sustentabi­lidade da previdênci­a municipal é inviável.

A Câmara informou que eventuais excessos das forças de segurança serão apurados.

A GCM afirmou nesta quinta (15) que “lamenta o fato de que, ao agir para proteger o patrimônio público e os vereadores de tentativas de agressão, [...] tenha havido o ferimento de uma das manifestan­tes. Na mesma data foi instaurado procedimen­to administra­tivo para apuração de todos os fatos.”

A PM afirmou que ficou só do lado de fora da Câmara e que a intervençã­o foi necessária devido ao tumulto, mas que ninguém foi detido.

Nesta quinta (15), milhares de professore­s e outros servidores municipais fizeram novo protesto em frente à Câmara, durante audiência pública sobre o projeto de lei —não houve confrontos.

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Suamy Beydoun - 14.mar.2018/AGIF/Folhapress A educadora Luciana Xavier, após levar golpe de cassetete

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