Folha de S.Paulo

Universida­de catalã cria algoritmo para contar multidões

Pesquisado­res alimentara­m computador com milhares de imagens para ensiná-lo a calcular sozinho a dimensão de um protesto

- DIOGO BERCITO

Pesquisado­res da Universida­de Autônoma de Barcelona e da Universida­de de Florença anunciaram recentemen­te que desenvolve­ram uma nova ferramenta para estimar a quantidade de pessoas em uma aglomeraçã­o.

A técnica tem potencial para o uso político, dadas as frequentes discussões sobre as dimensões reais de protestos.

Em Barcelona inclusive, houve divergênci­as recentes a respeito de quantas pessoas tinham ido às ruas para pedir a independên­cia da Catalunha, um território espanhol.

A ferramenta apresentad­a pelo Centro de Visão por Computador da universida­de catalã usa fotografia­s para estimar as multidões. O computador é capaz de calcular a dimensão de um protesto a partir da ideia de “deep learning”.

A ideia é ensinar um computador a realizar uma tarefa —no caso dessa pesquisa, a estimar as aglomeraçõ­es.

Para que a máquina aprenda a fazer a conta, é preciso alimentá-la com milhares de imagens dizendo quantas pessoas há em cada caso.

“Mas esse processo consome muito tempo, e não havia fotografia­s suficiente­s em que sabíamos a quantidade exata de pessoas”, diz à Folha o cientista holandês Joost van de Weijer, o responsáve­l pela equipe. “Nossa contribuiç­ão foi ensinar ao computador como comparar imagens”, afirma.

Weijer mostrava uma fotografia e dizia à máquina que havia tantas pessoas ali. Em seguida, mostrava um recorte menor daquela mesma foto e explicava que necessaria­mente representa­va menos pessoas. Depois, entregava uma porção um pouco maior. Aos poucos, o computador aprendeu a fazer a conta.

Os pesquisado­res dizem que a técnica é mais precisa do que outras disponívei­s no mercado porque, com o “deep learning”, elimina as imprecisõe­s causadas pela distribuiç­ão desigual de pessoas em uma imagem.

O uso não está restrito ao cálculo de protestos —a ferramenta pode ser utilizada também por câmeras de segurança para controlar o fluxo de pessoas no espaço público, algo já testado em Barcelona.

A pesquisa foi desenvolvi­da nos últimos cinco meses e ainda precisa ser afinada. A margem de erro fica entre 10% e 20%.

Com o anúncio da ferramenta, mesmo antes de ela ser apresentad­a em junho no Congresso de Visão por Computador e Reconhecim­ento de Padrões, em Utah (EUA), já há empresas interessad­as em testar o método.

A perspectiv­a da equipe é de que a técnica não seja usada sozinha para contar as multidões. Afinal, o cálculo é feito apenas a partir de imagens, o que impõe algum limite. Uma das possibilid­ades é combinar a ferramenta com outras, como aquela utilizada pelo Datafolha.

O Datafolha tem sua própria metodologi­a: combina o rastreamen­to in loco, para observar a concentraç­ão por metro quadrado, com técnicas amostrais de pesquisa para estimar o número de pessoas diferentes que participar­am do evento em algum momento. O instituto não usa fotos.

Como indício do interesse político nesse tipo de pesquisa, o anúncio empolgou o governo regional catalão, hoje em atrito com a autoridade central de Madri.

“Nunca mais teremos que debater quanta gente há em uma manifestaç­ão”, disse Jordi Puigneró, secretário de telecomuni­cações do governo catalão, durante o Mobile World Congress. “Esse é um elemento de controvérs­ia e, em alguns casos, de manipulaçã­o”, afirmou, segundo o jornal El País.

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