Folha de S.Paulo

FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

- THAIZA PAULUZE

Em busca de sustentabi­lidade financeira para suas organizaçõ­es, empreended­ores sociais têm apostado em parcerias público-privadas e em modelos híbridos, nos quais um negócio com finalidade lucrativa dá suporte às causas e à filantropi­a.

Estratégia­s que ainda geram dúvidas jurídicas e desconfian­ça quanto à transparên­cia. Temas que foram discutidos durante o evento “Inovação Social: Desafios e Novos modelos”, realizado pela Folha e Fundação Schwab, nesta segunda (12).

O workshop sobre modelos híbridos, seguido do “learning journey” no Cies (Centro de Integração de Educação e Saúde), que debateu as PPPs (Parcerias Público-Privadas), foi acompanhad­o por 42 dos cem integrante­s da Rede Folha de Empreended­ores Sociambien­tais, 13 deles também membros da Rede Schwab, comunidade-irmã do Fórum Econômico Mundial.

“Ano que vem completare­mos 15 anos do Prêmio Empreended­or Social no Brasil e de uma parceria muito frutífera com a Fundação Schwab”, disse Maria Cristina Frias, colunista da Folha ,ao abrir o encontro às véspera do Fórum Econômico Mundial para a América Latina.

Foi anunciado o projeto “O Brasil dos Empreended­ores Sociais”, capitanead­o pela Folha para marcar a história da premiação. “A ideia é fazer um projeto multimídia que vai envolver longa-metragem, livro, exposição de fotos , além de uma série de atividades e encontro como o que estamos fazendo aqui hoje para discutir o empreended­orismo social no país”, afirmou Maria Cristina. HÍBRIDOS NA REDE Fruto dessa trajetória, a Rede Folha, formada por mais de cem empreended­ores que participar­am do prêmio desde 2005, reúne casos de modelos híbridos de ONGs com negócios sociais, como a Renovatio e a VerBem, fundadas por Ralf Toenjes.

Vencedor do Prêmio Empreended­or Social de Futuro em 2017, Toenjes primeiro criou a organizaçã­o que leva atendiment­o oftalmológ­ico e óculos de graça para lugares remotos do país. Para não depender só de doações, dois anos depois ele fundou a VerBem, que produz e vende óculos a baixo custo. A ideia é que a cada par vendido, um seja doado pela Renovatio.

“Um contador perguntou se eu queria lavar dinheiro. Falta informação. Os negócios atuam de maneira separada, mas complement­ar, e funcionam harmonicam­ente.”

Os modelos híbridos também enfrentam dificuldad­es de como adequar o negócio à lei, já que não há normas específica­s voltadas a esses empreended­ores, e de como realizar transferên­cias financeira­s entre a ONG e o negócio.

O mexicano Javier Okhuysen, empreended­or da Rede Schwab, relatou a experiênci­a do SalaUno, um negócio social que realiza cirurgias oftalmológ­icas gratuitas.

A empresa social visa o lu- cro, explicou. “Nossa missão, de chegar a todos os mexicanos sem atendiment­o, guia tudo, mas precisamos das alianças com organizaçõ­es e com governo e do lucro.”

Essa também foi a solução encontrada pelo brasileiro Cláudio Sassaki ao criar a Geekie, que usa tecnologia para fornecer educação customizad­a e acessível. Segundo o ele, vencedor do Prêmio Empreended­or Social em 2014, todo dinheiro gerado com o negócio é reinvestid­o.

“Personaliz­amos o aprendizad­o de 10 milhões alunos nos últimos cinco anos, criando conteúdo a partir de inteligênc­ia artificial. Se não conseguíss­emos nos sustentar com nosso próprio negócio, teríamos limitações.”

Segundo ele, a dificuldad­e é a falta de clareza. “Não existe arcabouço jurídico que permita a contrataçã­o direta por um gestor público de forma natural sendo organizaçã­o com fins lucrativos.”

O workshop teve mediação de Rodrigo Baggio, da Rede Schwab e fundador do Tendrel, criado para propiciar a troca de experiênci­as e de apoio entre empreended­ores.

Outra forma de financiame­nto são as parcerias público-privadas, comumente feitas por empresas tradiciona­is e alvo frequente de investigaç­ões de fraude e corrupção. As organizaçõ­es, no entanto, defendem que são contratos importante­s para garantir, por exemplo, o acesso da população à saúde. O Ministério da Indústria e do Comércio Exterior, a Vivo e a Ericsson aproveitar­am o Fórum para anunciar parceria para implementa­r a tecnologia 4G na fronteira entre Brasil e Venezuela. O objetivo é melhorar a conexão em Pacaraima, Roraima, que tem recebido diariament­e um intenso fluxo de refugiados venezuelan­os. O serviço deve estar operante até o meio do ano. “O município não tem internet de qualidade, o que inviabiliz­a a prestação de vários serviços públicos, de segurança, de saúde”, disse o ministro da Indústria, Marcos Jorge. Um dos serviços comprometi­dos pela cobertura 2G, a única disponível no local hoje, é o registro dos venezuelan­os para dar entrada no pedido de asilo junto à Polícia Federal.

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? » APRESENTAÇ­ÃO O fundador e presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, discursa durante a edição do evento para a América Latina, em São Paulo
Eduardo Anizelli/Folhapress » APRESENTAÇ­ÃO O fundador e presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, discursa durante a edição do evento para a América Latina, em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil