Folha de S.Paulo

EUA suspeitam que Brasil compre aço da China para depois reexportar

- RAQUEL LANDIM

DE SÃO PAULO

Os Estados Unidos suspeitam que o Brasil esteja praticando triangulaç­ão de aço chinês. O setor siderúrgic­o brasileiro nega, mas a desconfian­ça pode servir de pretexto para não excluir o país do grupo de nações que terão o produto sobretaxad­o.

A prática de triangulaç­ão —importar aço da China e reexportar para o mercado americano— é uma das principais preocupaçõ­es da Casa Branca e deve ser um dos critérios usados nas negociaçõe­s com os países exportador­es.

O presidente Donald Trump anunciou que elevará as tarifas de importação de aço de 0,9% para 25% e de alumínio de 2% para 10% a partir do dia 23, mas deixou a porta aberta para negociaçõe­s país a país.

No fim de fevereiro, Will Ross, secretário de Comércio dos EUA, expressou sua preocupaçã­o de que o Brasil estivesse reexportan­do aço chinês em encontro com Marcos Jorge, ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, em Washington.

Jorge explicou ao americano que isso é impossível, porque 80% das exportaçõe­s de Exportaçõe­s 15,4 Principais destinos das exportaçõe­s brasileira­s, em % EUA Alemanha Argentina Turquia México aço do Brasil são produtos semiacabad­os, que servem como matéria-prima para siderúrgic­as americanas. Também salientou que o país importa carvão americano.

“Já deixamos claro para o governo americano que o Brasil não faz triangulaç­ão de aço chinês. Praticamen­te nem exportamos aço plano para os EUA”, disse Marco Polo Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

Em março de 2016, os EUA aplicaram tarifa antidumpin­g para produtos siderúrgic­os acabados do Brasil, acusando o país de vender abaixo do preço de custo. Na época, os americanos investigar­am se o Brasil fazia triangulaç­ão, mas não encontrara­m nada.

Antes da conversa entre os ministros, membros do Congresso dos EUA já tinham expressado a suspeita de triangulaç­ão a representa­ntes do setor siderúrgic­o brasileiro, após serem questionad­os sobre as razões de o Brasil ter sido incluído numa espécie de “lista negra” do Departamen­to de Comércio (DOC).

No fim de janeiro, relatório do DOC colocou o Brasil num grupo de 12 nações cujo aço poderia ser sobretaxad­o em 53%. Além de China e Brasil, também faziam parte Malásia, Vietnã e Coreia do Sul, nações frequentem­ente suspeitas de reexportaç­ão de aço chinês.

A administra­ção Trump, no entanto, acabou optando por elevar a tarifa geral de importação de aço para 25% e iniciar negociaçõe­s bilaterais. Mas não está descartada outra mudança na alíquota caso muitos exportador­es acabem excluídos da sobretaxa. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA atrás apenas do Canadá. PRAZO Segundo Pablo Bentes, diretor-executivo do escritório de advocacia Steptoe & Johnson, de Washington, o prazo para negociar uma exceção com o governo americano para a sobretaxa está acabando e a fila de interessad­os é longa.

Ele afirma que a Austrália está perto de ser excluída e que a Coreia do Sul, que tem um acordo de livre-comércio com os EUA, já marcou uma rodada de conversas.

Também destacou a movimentaç­ão da Argentina, cujo presidente, Mauricio Macri, falou diretament­e com Trump.

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