Palanque instável
A disputa que pode definir o candidato do PSDB ao governo paulista, neste domingo (18), rompe um impasse elementar na montagem de palanques para Geraldo Alckmin na eleição nacional. A conduta hesitante do tucano nas articulações, porém, revela o equilíbrio instável que deverá sustentar sua campanha à Presidência.
Alckmin adotou comportamento dúbio nas tratativas sobre sua sucessão. Dizia ser fundamental que seu campo político tivesse um único candidato, mas foi tão tímido nas negociações que acabou permitindo uma divisão. Tanto o vice-governador Márcio França (PSB) quanto o prefeito João Doria (PSDB) devem concorrer sob sua bandeira.
A bifurcação tende a consumir parte do capital político que Alckmin preservaria se pudesse apostar em um único cavalo. Com dois apadrinhados na praça, o tucano precisará dividir atenções e fazer acenos constantes a dois adversários —de quem espera indiscutível empenho a favor de sua própria campanha.
O desgaste com a divisão do palanque é inevitável. Para fazer gestos de apoio a França (que controlará a máquina do governo estadual quando Alckmin deixar o cargo), o tucano estimulou indiretamente deserções nas fileiras do PSDB para beneficiar seu vice, reduzindo o poder que a sigla emprestará a Doria.
Movimentos como esse colocam em risco a firmeza do acordo tripartite, mas a estrutura deve permanecer de pé mesmo estremecida porque há benefícios para todos os envolvidos. Alckmin quer absorver votos que serão dados a França e Doria, e estes também desejarão se aproveitar da imagem do governador.
As sequelas da sucessão paulista devem ser atenuadas, mas o episódio mostra que a fragilidade do PSDB e o estilo acanhado de Alckmin podem criar obstáculos em outros estados. Se não tiver força para impor soluções vantajosas, o tucano perderá tempo mediando conflitos e montando palanques improvisados.