Folha de S.Paulo

Tiveram descontos de R$ 1,6 bilhão —o equivalent­e a 34% das dívidas.

- JULIO WIZIACK MARIANA CARNEIRO

DE BRASÍLIA

Bancos e fabricante­s de bebidas foram os setores que conseguira­m os maiores abatimento­s em suas dívidas dentro do Refis, o programa de parcelamen­to de débitos tributário­s da União. Os cortes ultrapassa­ram 50% do valor da dívida inscrita.

Há casos similares, mas pontuais, entre grandes empresas de outros setores, como Braskem e Volkswagen.

Lançado no início de 2017, o Refis foi aprovado pelo Congresso em dezembro com condições mais vantajosas do que pretendia o governo.

A Folha obteve a lista das maiores adesões na Procurador­ia-Geral da Fazenda via Lei de Acesso à Informação. As informaçõe­s são públicas porque se referem à Dívida Ativa da União.

Os dados não incluem o total dos débitos considerad­os pela Receita Federal. Nos mais diversos setores, empresas questionam dentro da Receita um grande volume de cobranças que, até um parecer final do órgão, permanecem sob sigilo.

As mil maiores dívidas inscritas no Refis obtiveram descontos de R$ 11,7 bilhões —um terço do total.

O setor bancário concentrou os maiores descontos. Quatro de cinco instituiçõ­es abateram mais da metade de sua dívida —Itaú Unibanco, Safra, Santander e Rural (em liquidação extrajudic­ial).

Juntos, esses bancos negociaram uma dívida de R$ 657,3 milhões. Terminaram se compromete­ndo a pagar R$ 302 milhões.

Ambev e Heineken acumularam descontos acima de 50%. Na Cervejaria Petrópolis (Itaipava), o corte foi de 42,2%. Juntas, renegociar­am dívidas de R$ 451,8 milhões.

Na BR Distribuid­ora, que recentemen­te abriu o capital, o corte foi maior, de 61%. Maior empresa brasileira, a Petrobras abateu 45% da dívida, quase R$ 3 bilhões.

No setor de alimentos, as três maiores empresas (JBS, Marfrig e BRF) negociaram R$ 4,7 bilhões em pendências tributária­s. Com o Refis, elas ob- PERDÃO Os descontos maiores estavam previstos na lei que criou o Refis. Pessoas e empresas que aceitassem pagar 20% da dívida na entrada poderiam parcelar o restante em até 175 prestações mensais com abatimento­s de juros que variaram de 90% —para pagamento em uma só parcela— a 25%, para o parcelamen­to máximo.

O programa ainda concedeu descontos para multas e mora. Quem optou por parcelar em menos vezes conseguiu um desconto maior.

Segundo advogados tributaris­tas consultado­s pela Folha, com folga de caixa devido aos efeitos da recessão, que fechou a torneira do crédito, os bancos preferiram arcar com uma entrada maior e quitar o restante em poucas vezes. Itaú Unibanco e Santander, por exemplo, pagaram em duas parcelas.

O Banco Alfa afirmou já ter quitado o Refis. Deu uma entrada de 20% à vista e pagou o restante com descontos em dezembro do ano passado.

No ramo de bebidas, que enfrentou dificuldad­es nos últimos anos com a retração do consumo, a opção foi uma entrada maior com um parcelamen­to diluído no tempo (em até 145 vezes).

“Atendi empresas que preferiram tomar empréstimo para aderir ao programa com 20% de entrada para ter descontos maiores”, disse o advogado Edison Fernandes, ex-conselheir­o do Carf. Ele não revelou as empresas.

Entre as mil maiores adesões, 25% não obtiveram descontos por optarem pelo parcelamen­to em dez anos com mensalidad­es progressiv­as.

Tributaris­tas que assessorar­am essas companhias afirmam que, na maior parte dos casos, a escolha foi feita para preservar o caixa diante das dificuldad­es financeira­s que ainda enfrentam pós recessão. Aderiram a esse parcelamen­to empresas do setor sucroalcoo­leiro, como a usina Itamarati, e a calçadista Amazonas. Automobilí­stico Volkswagen Bebidas Heineken Brasil Ambev Cervejaria Petrópolis Combustíve­l BR Distribuid­ora Transpetro

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