‘Mãe da cracolândia’, ex-viciada se dedica a ajudar dependentes em SP
Eliana cuida de pessoas da região por conta própria e pretende abrir casa de acolhida
necessitados. Não tenho maldade, não tenho medo, não posso ver ninguém sofrendo”.
Mãe de duas jovens, de 12 e 17 anos, continua fazendo cursos de capacitação e ganha a vida com aulas particulares e trabalhos temporários, que vão de contar histórias de palhaços em festas infantis a saraus eróticos como o que apresentou outro dia na Nossa Casa, na Vila Madalena.
O QG de Eliana fica no Clube de Mães do Brasil, o “Castelinho da rua Apa”, onde faz planos para a sua ONG (novo projetosocial@gmail.com) e sonha com o projeto de uma casa de acolhida que não pareça com um albergue, mas uma morada de família.
“A ONG sou eu e meus amigos da rua. Me arrisco sempre, mas vou conseguindo as coisas, melhorando a vida de muita gente. Eu não discrimino ninguém. Eles não são violentos como dizem. Vivem é com medo da polícia. Minha mãe dizia: ‘Tudo que não presta, a Eliana está no meio...’.”
Os conviventes ouvem a entrevista de Eliana com orgulho e gratidão, acenando positivamente com a cabeça. “Essa é a nossa mãe para nós até hoje”, diz Edgar Silva, um dos três amigos que a acompanharam nas andanças do dia. Quando pergunto o que fazem, Edgar conta que é plaqueiro, segura aquelas placas com ofertas de vagas de emprego; a transexual Cláudia Aparecida Silva diz que “no momento, estou só estudando” e Odair Barbosa está em busca de algum trabalho.
O que os une é a dependência química, a solidão, a depressão, a busca de um lugar melhor no mundo. Ajudá-los, como conseguiu, é a profissão de vida e de fé de Eliana.
Ela sabe por experiência própria do que os amigos falam e dá risada quando alguém lembra a declaração do prefeito João Doria (PSDB) nos primeiros meses de seu governo anunciando que “a cracolândia acabou”, depois de uma megaoperação de limpeza da área e desobstrução de vias e prisão de traficantes.
Enquanto isso não acontece, Eliana faz a sua parte no dia a dia. Agora, ela está preocupada com a decisão da prefeitura de fechar aos poucos os hotéis que abrigam alguns dos viciados e também cortar as últimas “bolsas varrição”, uma ajuda de custo aos dependentes que faziam algum tipo de serviço na região.
Alguns deles vão fazer companhia aos indigentes, muitos deles retirantes de outros países, largados junto à estátua de Caxias na praça Princesa Isabel, onde funcionários cuidavam de consertar os caminhos e embelezar os jardins degradados. Supervisionando tudo, meia dúzia de orientadores socioeducativos da prefeitura com coletes em que se lia “Vida Nova” cumpriam seu expediente.