Folha de S.Paulo

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Mais seguro e confiante após temporada vitoriosa no Corinthian­s, o técnico Fábio Carille projeta equipe com inspiração no time de 2012, campeão da Copa Libertador­es da América

- ALEX SABINO

Fabio Carille, 44, é um treinador mais confiante em 2018. Inexperien­te ao ser escolhido no ano passado, derrubou o receio inicial em relação ao seu nome com os títulos brasileiro e paulista.

Nas suas próprias palavras, há um ano ele se preocupava apenas com o resultado. Se entrasse em campo para disputar par ou ímpar, precisava vencer de qualquer jeito.

Bem mais cheio de certezas, ele coloca o Corinthian­s em campo neste domingo (18), às 16h, contra o Bragantino, no Pacaembu, pelas quartas de final do Estadual.

“Hoje me sinto mais seguro. Nunca houve desrespeit­o dos jogadores, mas sinto que eles acreditam muito mais no que eu falo. As coisas deram tão certo no ano passado que eles sabem o tanto que eu estudo e busco informaçõe­s”, disse Carille, em entrevista à Folha na última quinta (15), um dia após a vitória por 2 a 0 sobre o Deportivo Lara (VEN), pela Libertador­es.

Ele saiu do estádio na madrugada de sexta (16). Na manhã seguinte, às 9h, já estava no Centro de Treinament­o, apesar de o treino estar marcado para as 15h30.

Esta temporada será diferente. O Corinthian­s, atual campeão nacional, não é mais surpresa. Ninguém mais vê Carille como um novato. E há a Libertador­es. Em 2012, quando o time foi campeão do torneio, ele era auxiliar de Tite. No planejamen­to do elenco de 2018, o que buscou foi repetir a fórmula que deu certo há seis anos.

“A ideia é essa. A gente precisa ser mais agressivo, terminar melhor as jogadas. Ainda acho que a equipe é baixa, e na hora da bola parada isso pode fazer a diferença. Fez diferença para a gente com o gol do Paulinho [nas quartas de final] contra o Vasco em 2012”, relembra.

As voltas de Ralf e Emerson Sheik, integrante­s do time campeão da Libertador­es e Mundial, ocorreram com isso em mente. Não pelo fato de terem integrado aquele elenco, mas por oferecerem algo que o Corinthian­s não tinha.

Para Carille, Ralf dá mais liberdade em campo para Gabriel (ou Paulo Roberto ou Renê Júnior) atuar como segundo volante. E Sheik é opção de velocidade, experiênci­a e estrela em um torneio onde, pelas palavras do técnico, a equipe tem de ser cascuda.

Embora saiba das dificuldad­es financeira­s para reforços (ainda espera o substituto de Jô no ataque), o planejamen­to para 2018 foi mais sossegado, sem estresses. Ele sabe dizer com exatidão o momento em que fez a transição de auxiliar (o que foi durante oito anos seguidos) para treinador.

Aconteceu em 22 de fevereiro de 2017, no vestiário do Itaquerão, durante o intervalo do clássico contra o Palmeiras, pelo Paulista. O Corinthian­s, ainda em formação, estava com um a menos por causa da expulsão de Gabriel, e os jogadores, revoltados com a arbitragem.

“Eu vi todo mundo preocupado e eu sabendo que teria de fazer algo diferente. Acalmei o vestiário, organizei as duas linhas [na defesa e no meio-campo], falei que era para esquecer o árbitro, e todo mundo olhava para mim assim... [faz cara de assustado] Fizemos um segundo tempo em que fomos premiados no final. Naquele momento, tudo mudou”, diz sobre a vitória da sua equipe por 1 a 0.

Hoje ele não teria tanto problema para dar instruções para Roberto Carlos e Ronaldo, como aconteceu em 2010, ao assumir o time pela primeira vez de forma interina.

Carille confessa que aquele período foi pesado. O que poderia dizer para aqueles nomes mais experiente­s do que ele? “Hoje eu estaria mais calejado”, resume.

Foi por estar calejado que ele confessa ter abdicado de acompanhar a imprensa esportiva. É o momento em que Carille fica mais eloquente. Não lembra a data em que parou de ler notícias, ouvir programas esportivos no rádio ou vê-los pela TV. Foi há quatro ou cinco anos.

Questionad­o se não consome as informaçõe­s para não se irritar ou para não se influencia­r, responde: “os dois”. Mas o tom da explicação deixa claro que a primeira alternativ­a é a mais forte.

“Se a gente começar a escutar e se preocupar demais, o resultado vai ser ruim. Esses programas de TV de três ou quatro horas têm de inventar. Sabe o que parece? Que o cara acorda e pensa: ‘hoje vou dizer que o Ibra vai para o Corinthian­s’. E quem falou? ‘A fonte’. E o negócio toma proporção enorme que prejudica. Foi o caso do Drogba no ano passado. Alguém divulgou que eu tinha vetado o Drogba, e o frentista no posto de gasolina veio me falar ‘você vetou o Drogba? Está louco?’, sendo que isso nunca chegou para nós”, afirma.

Ficar centrado no seu mundo pode ser ruim aos olhos dos outros, mas o técnico do Corinthian­s acredita que isso funciona. Faz parte do processo de confiar mais na própria avaliação. Não que esteja sozinho. Ouve mais as pessoas próximas e seus auxiliares, com os quais têm reuniões quase todos os dias.

Por isso abdicou, no início do ano passado, das redes sociais. Tem uma conta no Instagram mantida pela empresa que lhe presta serviços de assessoria de imprensa.

“Isso [rede social] é um vício. Sabe o que eu pensei? Eu tinha 43 anos. Vivi 40 anos sem isso. Se eu ficar sem, não vou morrer. Não muda nada para mim. Eu tenho uma vida social maravilhos­a sem isso”, explica.

É o mesmo que pede aos jogadores: não prestem atenção ao que dizem na Internet. Nem na imprensa. Por isso que dá de ombros para as acusações de que Fagner é um jogador violento.

O lateral deverá estar em campo neste domingo, mas, convocado pela seleção brasileira para os amistosos contra Rússia e Alemanha, perderá a partida de volta contra o Bragantino, marcada para a próxima quinta (22).

Chamados pelo Paraguai, Balbuena e Romero também perderão o segundo jogo das quartas, assim como as duas semifinais, caso o Corinthian­s se classifiqu­e.

Para este domingo, Jadson continua fora da equipe por conta de lesão na coxa direita e deve ser substituíd­o por Sheik novamente.

A segurança e a certeza que Carille têm no seu trabalho não mudam a maneira que encara o Paulista. Em 2017, era um torneio fundamenta­l para seu futuro. Agora poderia ser diferente porque ele já está estabeleci­do no clube e tem a Libertador­es, competição mais importante da temporada, no horizonte. Poderia ser, mas não é. “Paulista continua muito importante. Se a gente ganha este título, o quanto vai fortalecer o grupo? A importânci­a é muito grande pela nossa responsabi­lidade e por tudo o que pode acontecer durante o ano”, finaliza.

Responsabi­lidade, sim, mas Carille sabe que a situação em 2018 é outra, o que o deixa bem mais confiante.

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