Folha de S.Paulo

Toda a gana de Suárez

Quando o atacante mostrou que também tem reflexo para evitar gols, pôs fim ao sonho do adversário de se tornar o primeiro africano na semifinal de uma Copa do Mundo

- GIANCARLO GIAMPIETRO GANA

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Se Luís Suárez não tivesse mostrado agilidade também para ser um ótimo goleiro, Gana seria a primeira seleção africana a avançar a uma semifinal de Copa do Mundo.

Você deve se lembrar do lance: último minuto de prorrogaçã­o no estádio Soccer City pelas quartas de final da Copa da África do Sul, e o ganês Dominic Adiyiah cabeceia com firmeza. O goleiro uruguaio Fernando Muslera é superado, até que Suárez surge na “cobertura”.

Sem pestanejar, mete ambas as mãos na bola, praticamen­te em cima da linha, evitando a eliminação. Expulso, ainda vê o atacante Asamoah Gyan errar a cobrança de pênalti, acertando o travessão. Na disputa por pênaltis, Muslera pegaria dois.

O reflexo de Suárez foi tão controvers­o que acabou ofuscando as “Estrelas Negras” de Gana. É curioso notar como aquela equipe não gerou frisson nenhum no torneio, mesmo que tenha chegado tão perto de uma façanha, ao contrário do que aconteceu com as seleções de Camarões e Nigéria nos anos 1990.

Talvez por causa de seu futebol mais metódico, amarrado pelo técnico sérvio Milovan Rajevac (cujo principal mérito foi apaziguar as desavenças no vestiário). A percepção seria diferente se a bola tivesse entrado.

“Não gosto dessa palavra, mas as pessoas odeiam Suárez em meu país. É doloroso trapacear, mas faz parte. Ele usou as mãos, mas, no final, eu desperdice­i nossa chance e ele salvou seu país”, lamenta-se o atacante ganês. GLAUCO DIOGENES STUDIO PAN-AFRICANISM­O Gana é um raro caso de seleção africana cujo apelido não deriva da sua fauna. A “estrela negra” foi um símbolo político adotado por influência do primeiro presidente do país após sua independên­cia, Kwame Nkrumah. Era uma referência à companhia marítima “Black Star”, fundada pelo ativista e empresário Marcus Garvey (1887-1940). O jamaicano foi um dos líderes do movimento que ambiciona a união entre os africanos e seus descendent­es que deixaram o continente escravizad­os entre os séculos 16 e 19

ESTRELAS E GALÁCTICOS

Em uma fase áurea da década de 1960, Gana estampava estrelas com tamanho consideráv­el em seus uniformes, substituin­do o escudo da federação. Foi com o símbolo em destaque que a seleção recebeu o Real Madrid, dos míticos Di Stéfano e Puskás, para um amistoso em Accra, em 1962. O jogo terminou com surpreende­nte placar de 3 a 3. Di Stéfano fez o terceiro do Real no último minuto de jogo O dono da camisa: Asamoah Gyan Maior artilheiro e jogador que mais vezes vestiu a camisa de sua seleção, Gyan não desabou em campo após falhar no pênalti, mas as imagens de seu olhar atônito ainda impression­am. “Até aquele jogo, eu havia convertido praticamen­te todos os pênaltis que bati. Quando a bola acertou o travessão, senti uma coisa muito estranha. Sabia que havia decepciona­do muitas pessoas”, disse ao site da Fifa. Em 2015, em entrevista ao jorn al The National, dos Emirados Árabes, revelou que, vira e mexe, assistia ao doloroso duelo com os uruguaios. “Fico sonhando que a partida pudesse ser disputada novamente.” Acesse

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