Folha de S.Paulo

É difícil [acabar com o machismo]. Mas eu acho que cabe mais ao homem falar [sobre

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Eu tinha ficado viúva muito criança [aos 21 anos]. Fui cantar. Era aquela coisa de que mulher que saía à meianoite para a rua era prostituta. Cantar, então… Como é que a mulher vai sair de casa pra cantar? Ficou maluca, diabo?

Chega lá, vem um homem sorrindo pra sua cara. Meu Deus, o que eu faço com esse homem me olhando o tempo todo, com flores? [Referindos­e a Lupicínio Rodrigues, que a procurou numa boate para agradecer pelo sucesso de “Se Acaso Você Chegasse”, composição dele e de Felisberto

[Meu público hoje é] uma garotada. A gente vem fazendo uma mudança muito grande, que se concretizo­u em “A Mulher do Fim do Mundo”, trabalhand­o com esses artistas maravilhos­os.

Isso vai te levando cada vez mais ao tapete vermelho. Tô pisando no tapete vermelho.

Tenho uma certeza: já nasci coroada. A lata d’água na cabeça é uma coroa. Porque toda coroa leva um pouco de lata. Então a minha coroa já foi desde criança. Eu cantava, dançava [carregando latas d’água]. Já nasci coroada.

Nada mais justo e nada melhor do que você ser simples. Não digo simplório. Mas que você seja simples sabido. Sabendo por que você é simples.

Em qualquer lugar que passo, eu peço licença. Saber pedir licença, saber pisar, saber chegar. É muito importante isso. Não me julgo maior do que ninguém porque canto. Cozinho bem à beça também.

Eu canto para não enlouquece­r. A música ainda é remédio bom. Sempre digo que a música é uma medicina incrível. Como ela cura, meu Deus do céu! Sedativo da dor.

Tô acordada pra vida. Não sei [como consigo manter o ritmo]. Sei que eu tô em pé.

Sou orgulhosa de ser brasileira. Fico triste [com o momento atual do país]. O Brasil não merece passar por isso. Isso tudo não passa de uma… Ah, não sei não, acredito até que seja uma coisa combinada para maltratar o país. Uma coisa bem traçada.

Agora, como acredito no povo, acho que a voz do povo é a voz de Deus, é a voz da razão… Se o povo quiser, ele vira isso de cabeça pra baixo e acabou tudo.

Olha, eu pretendo descansar [nas eleições deste ano]. Mas aconselho as pessoas: vão lá e votem, por favor! Não tem candidato, né?

[Ainda vivo] no “planeta fome” [como disse no programa de Ary Barroso em 1953]. Ainda tem fome. Tem fome de tudo. De educação, de saúde, de governo. BALANÇO O lado bom [é o que mais me marcou na vida]. Não quero falar do lado negativo. As coisas boas que conquistei, isso é muito importante. Você saber valorizar também as coisas boas.

Não é só ficar falando que sofreu. Não, tive muita coisa boa na vida! Eu sou uma vitoriosa. Isso pra mim é muito bom. Sou uma vitoriosa!

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