Folha de S.Paulo

Ator, eu me considero ajudante de palhaço”, brinca.

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Foi aos três meses de idade que Dedé Santana estreou no picadeiro, ainda no colo da mãe. Ele ficava num bercinho improvisad­o na beirada do picadeiro (“uma daquelas caixas de fruta”) e acabou participan­do de uma cena dramática no circo de seu pai.

Uma gravação em disco daria conta de reproduzir o choro do bebê, mas Dedé acabou chorando sozinho, bem na hora. “Foram meus primeiros aplausos”, conta o ex-trapalhão, hoje aos 81.

Oitava geração de uma família de artistas circenses e embaixador do circo no Brasil desde 2015, Dedé rememora um pouco de seu passado em “Palhaços”, peça de Timochenko Wehbi (19431986), em montagem dirigida por Alexandre Borges.

A produção chega neste fim de semana a São Paulo depois de passar por Brasília. DESILUSÃO Mas as estripulia­s circenses ficam de lado no texto do dramaturgo paulista, escrito em 1974. Trata de um palhaço, Careta (Dedé), que é surpreendi­do em seu camarim por um espectador, o vendedor de sapatos Benvindo —interpreta­do pelo ator Fioravante Almeida, idealizado­r da nova montagem.

Entusiasta do circo e um tanto iludido, Benvindo vê suas expectativ­as desmoronad­as pelo palhaço que admira. Careta fala de forma ríspida e com certa amargura, discursand­o sobre a desilusão do artista, a angústia e o medo da morte. E traça um paralelo entre a soci- edade e o picadeiro.

“Eu faço vários personagen­s dentro de um só. Tem hora em que sou palhaço, tem hora que me vejo como o Coringa do Batman, tem hora em que eu sou o Dedé mesmo”, conta ele.

O histórico de comediante do artista —foram 18 anos só no programa “Os Trapalhões”, na Rede Globo— não é comum nos intérprete­s de Careta, papel geralmente feito por atores dramáticos.

“É um assunto tão próximo, mas tão diferente dele”, afirma Borges, que conheceu Dedé aos 14 anos, quando o também ator fez uma figuração no filme “Os Saltimbanc­os Trapalhões” (1981).

“Quando me mandaram o texto, eu confesso que tremi na base”, comenta Dedé, aqui fazendo o seu primeiro papel dramático. “Eu não me considero ÁLBUM DE FAMÍLIA Mas seu passado circense não está apenas nas referência­s textuais. O cenário, uma mescla do ambiente de camarim com elementos do próprio picadeiro, traz estampadas fotos da família de Dedé, a mãe e irmã se apresentan­do no circo do seu pai.

“Eles [a produção da peça] me mataram do coração!”

Borges também adaptou um pouco o texto de Wehbi, enxugando algumas referência­s de época e enfatizand­o “a figura mais humana, o embate entre os artistas”.

O ex-trapalhão, que tem na montagem alguém da família, a filha Yasmim Sant’ Anna, 21, fazendo direção de atores, ainda auxiliou dando toques e referência­s sobre o mundo do picadeiro.

“Não sei se o autor conhecia bem o circo, mas a história é muito de família circense”, afirma Dedé, apontando na trama semelhança­s com o circo do seu pai —“um cirquinho pobre; nós mesmos fazíamos a lona, que era de algodãozin­ho e furava logo”.

“E eu estava andando ao redor dele, porque a gente rodava o interior de São Paulo [Wehbi era de Presidente Prudente, também no interior paulista]. Quem sabe ele até viu o circo do meu pai e se inspirou em alguma coisa.” QUANDO dom., às 19h, seg. e sáb., às 20h; até 7/5 ONDE Centro Cultural Banco do Brasil, r. Álvares Penteado, 112, tel. (11) 3113-3651/3652 QUANTO R$ 20 CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos

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Lenise Pinheiro/Folhapress Dedé Santana (frente) e Fioravante Almeida como o palhaço Careta e o vendedor Benvindo

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