Folha de S.Paulo

Com uso de novas tecnologia­s, varejo rastreia e monitora os consumidor­es

Solução analisa fluxo de pessoas que transitam dentro e fora dos estabeleci­mentos comerciais e suas compras

- ALESSANDRA MILANEZ

Captura dos dados avançou em ritmo mais acelerado do que a capacidade de análise, segundo especialis­tas FOLHA

A tecnologia veio para ficar no varejo físico e está presente em todas as áreas da empresa, trazendo dados que antes eram restritos ao mundo online —como estatístic­as sobre hábitos e comportame­ntos do consumidor— e transforma­ndo a própria atuação dos negócios.

É o caso da FX Retail Analytics, empresa que oferece uma solução para o varejo que monitora o fluxo de pessoas que transitam dentro e fora dos estabeleci­mentos comerciais.

Por meio de câmeras e de sensores que captam se o sinal de wi-fi dos clientes está ativo, a FX é capaz de determinar quantas pessoas passam na frente da loja e, dessas, quantas de fato entram.

No interior da loja, a tecnologia permite traçar mapas de calor, mostrando quais regiões têm mais movimento, os horários de maior fluxo, e ver quantas pessoas fizeram uma compra em relação ao total dos que entraram.

“O varejista físico tem que se digitaliza­r, senão vai morrer”, afirma Walter Sabini Junior, sócio-fundador da FX.

Um dos clientes da FX é a Preçolândi­a, rede de utilidades e utensílios domésticos com 30 lojas no estado de São Paulo. Michel Zakka, 46, diretor comercial da Preçolândi­a, conta que a empresa implantou o sistema da FX há quase dois anos para que pudesse contar quantas pessoas saíam das lojas sem efetuar uma compra.

Com a ferramenta, tiveram acesso a outra informação importante: os horários de maior fluxo da loja. “Com isso conseguimo­s preparar as lojas corretamen­te e usar melhor nossos recursos”, afirma Zakka. A solução custa a partir de R$ 99 por mês por loja. “A ferramenta se paga desde que você realmente use os dados para melhorar a operação”, diz Zakka.

Assim, o grande desafio diz menos respeito à tecnologia em si do que ao uso que se faz dela, segundo especialis­tas consultado­s pela Folha.

Cláudio Felisoni Ângelo, coordenado­r do Provar (Programa de Administra­ção de Varejo), da FIA (Fundação Instituto de Administra­ção), destaca que a captura dos dados avançou em ritmo mais acelerado do que a capacidade de análise. “Tem que haver um equilíbrio entre essas tecnologia­s e investimen­to em capital humano”, avalia.

Maurício Morgado, professor e coordenado­r do FGVcev (Centro de Excelência em Varejo da FGV), concorda. Morgado destaca que a tecnologia pode ajudar tanto a treinar a força de venda quanto foi a taxa de cresciment­o das vendas do varejo global em 2017 é a projeção de alta nas vendas no setor em 2022 é o número de lojas físicas no estado de São Paulo servir de apoio ao cliente. “O vendedor e até mesmo o cliente podem ter acesso a informaçõe­s mais detalhadas do produto na própria loja, por meio de um tablet, por exemplo”, explica.

Para os clientes, o pagamento com smartphone­s promete ser uma tendência. Levantamen­to da consultori­a PwC com consumidor­es de todo o mundo revela que 50% dos que respondera­m a pesquisa usam smartphone­s para fazer pagamentos, seja na própria loja ou encomendan­do antecipada­mente por meio dos aplicativo­s das lojas ou de uma plataforma de pagamentos.

No Brasil, o pagamento por celular direto na loja, substituin­do o cartão, ainda dá seus primeiros passos, mas tende a crescer, segundo a PwC.

Outro aspecto, mais gerencial, é conseguir fazer com que as informaçõe­s pertinente­s cheguem a todas as áreas da empresa e que elas sejam usadas para a elaboração de melhorias. Além disso, é preciso que a matriz consiga ter acesso online e em tempo real aos dados de atendiment­o e estoque.

Nesse sentido, a gestão do estoque é um dos principais desafios para o varejo, independen­temente da tecnologia que se use.

Thiago Carvalho, assessor da Fecomercio­SP, lembra que, para auxiliar nessa questão, já existem tecnologia­s avançadas, como a RFID, que é uma etiqueta de identifica­ção por radiofrequ­ência e substitui o código de barras.

“Com essa tecnologia é possível fazer a contagem do pedido em poucos segundos. Em vez de fechar a loja para balanço por alguns dias, é possível ter as informaçõe­s em tempo real. Há um ganho de escala e a tendência é que isso se dissemine no varejo. O cliente pode colocar as compras no carrinho e, quando passar no caixa, a solução já identifica tudo o que está dentro”, afirma Carvalho.

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