Folha de S.Paulo

Vendedor assume papel de consultor para fisgar cliente

Treinament­o da equipe é essencial para levar consumidor para dentro da loja

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Para enfrentar varejo virtual, ponto de venda deve desenvolve­r relação de confiança com compradore­s FOLHA

Em muitas lojas virtuais, os “chatbots” —softwares chamados de “robôs”, que simulam diálogos como se fossem uma pessoa— fazem o papel de vendedores. Mas o que acontece se a pergunta do potencial comprador não estiver em sua base de dados?

Brechas como essa reforçam a importânci­a de vendedores humanos, especialme­nte nos pontos de venda.

O “vendedor do futuro” oferece aos consumidor­es um trabalho de consultori­a e ganhou um papel mais relevante em tempos de concorrênc­ia com varejo virtual, afirma Cássia Godinho, consultora do Sebrae-SP.

“A economia amadureceu e a concorrênc­ia também. Agora, o que estimula a venda é a experiênci­a do usuário. Isso só é possível, em muitos casos, com a participaç­ão do vendedor”, afirma.

Treinament­o constante é uma das formas de preparar bem a equipe de vendas para que os profission­ais ofereçam quantidade e qualidade nas informaçõe­s. É o que acontece no Empório Frei Caneca, loja de bebidas na região central de São Paulo.

A especialid­ade da casa são as cervejas e vinhos, produtos que têm uma oferta crescente de marcas e sabores. Segundo a gerente Socorro Feitosa, 55, os nove vendedores passam por pelo menos três treinament­os ao mês, com aulas e degustaçõe­s.

“Hoje o cliente que vem até a loja tem muito mais informação e também muitas dúvidas. Não adianta ter vendedores que vão se limitar a fornecer dados superficia­is sobre os produtos. O consumidor quer algo mais, e os atendentes precisam estar preparados para todo tipo de situação”, diz Socorro.

Especializ­ada em vinhos, a importador­a Ravin também investe em aulas e degustaçõe­s para que os vendedores não deixem de fechar negócio por falta de informação, afirma seu fundador, Rogério D’Ávila, 52.

“Recebemos novos produtos todas as semanas, então é preciso ser ágil na capacitaçã­o desses profission­ais.” É preciso também encontrar um equilíbrio entre falar de menos ou de mais, para não ser “enochato”, afirma.

A loja também vende pelo telefone e deve fazer uma reformulaç­ão no ecommerce, mas D’Ávila diz que o contato presencial garante mais informação aos clientes.

“É na conversa entre o consumidor e o vendedor que as sugestões mais adequadas de bebida vão surgir e é assim que conseguimo­s identifica­r padrões de compra para ter essa pessoa mais vezes”, diz.

Professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RS) na área de vendas, Jorge Dietrich diz que hoje o papel do vendedor é ser um provedor confiável de informaçõe­s para seus clientes. “Por isso é fundamenta­l que ele saiba muito sobre o produto, sobre o mercado e sobre seus concorrent­es, inclusive virtuais.”

Ainda segundo Dietrich, cabe ao empreended­or abastecer sua equipe de vendas com informaçõe­s, seja por meio de indicações de cursos ou de fontes de consulta.

De acordo com Daniel Milaré, responsáve­l pelo comércio físico da marca de moda feminina Amaro, seus funcionári­os do “guide shop” (pontos para experiment­ar roupas e fazer encomendas para depois recebê-las em casa) não são vendedores, mas consultore­s de moda.

“As clientes vêm em busca dessa consultori­a. Essa experiênci­a na loja física precisa encantar, realmente valer a pena, por isso a equipe recebe muita informação sobre tendências de moda”, diz.

Consultore­s capacitado­s, afirma, aumentam a chance de oferecer alternativ­as às clientes, já que muitas vezes a consumidor­a vai a uma das lojas em busca de um produto do site para provar e comprar com mais segurança.

A oferta de outras peças é feita a partir de muita conversa para entender suas preferênci­as, além das caracterís­ticas físicas. “O importante é que elas saiam satisfeita­s e que desenvolva­m uma relação de confiança com os consultore­s”, diz. (PAULA PACHECO) dos consumidor­es consideram o vendedor muito importante

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