Folha de S.Paulo

Vitrine inteligent­e já adivinha o que as pessoas desejam

Loja de São Paulo troca mostruário por painéis digitais que analisam perfil do cliente antes de sugerir produto

- PAULA PACHECO

Empresas pequenas devem investir em formas de conectar a fachada do ponto físico com as redes sociais FOLHA

Um robô de cerca de meio metro dá as boas-vindas a quem passa pela loja da Omnistory, no shopping Villa Lobos (zona oeste de São Paulo). Ao lado, produtos são exibidos em telas que funcionam como vitrines virtuais.

Quem determina o que o painel mostra é o consumidor, mesmo sem saber. Quando a pessoa para em frente à tela, uma microcâmer­a faz a leitura facial, identifica sexo, faixa etária, tipo físico e humor para depois exibir algo relacionad­o ao seu perfil.

A loja muda a oferta de produtos a cada quatro meses e agora vende itens de bem-estar. O local foi aberto em agosto de 2017 pela GS&COMM, braço do Grupo GS& Gouvêa de Souza, consultori­a especializ­ada em varejo, em parceria com empresas de tecnologia, como a Totvs.

Pedro Padis, 37, sócio da empresa, conta que a proposta da loja é criar um híbrido entre o modelo físico e o digi- tal e servir de laboratóri­o para o desenvolvi­mento de inovações para o varejo. Nesse caso, o mostruário tradiciona­l deu espaço à experiênci­a personaliz­ada por meio de câmeras e softwares.

Assim como nas lojas tradiciona­is, as vitrines virtuais da Omnistory servem para exibir produtos promociona­is e lançamento­s. Padis não divulga números, mas garante: o número de pessoas que entra na loja para comprar algo é maior graças aos painéis. CAMPANHA NA REDE Quem não tem como investir em inteligênc­ia artificial pode usar outros recursos para aumentar as vendas.

Rogério Wolf, 43, consultor de moda e marketing da Tova, atacadista de moda feminina no bairro do Bom Retiro (centro de São Paulo), investiu há cerca de três anos no desenvolvi­mento de vitrines que não apenas atraiam quem passa pela movimentad­a rua Aimorés, mas também que facilitem a comunicaçã­o com as redes sociais, uma importante ferramenta de divulgação de produtos.

“Quando a vitrine consegue contar uma história e isso se propaga pelas redes sociais, acaba tendo impacto nas vendas”, diz.

Assim como a Tova, que atende clientes de todo o país, muitas atacadista­s de moda da região do Bom Retiro e do Brás usam o Instagram, o Facebook e o WhatsApp para divulgar suas coleções e receber encomendas.

No caso da Tova, conta Wolf, essas redes sociais acabam servindo como uma extensão da experiênci­a que o cliente tem na loja.

“Tudo é integrado para que haja uma comunicaçã­o única entre vitrine, coleção, redes sociais e clientes”, diz.

Hoje, segundo o consultor, cerca de 20% do investimen­to da atacadista têm como destino o mostruário e o seu uso nas redes sociais. INTERAÇÃO Para Heloisa Omine, professora da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), experiênci­as que integram a comunicaçã­o da loja física com o mundo virtual podem ser feitas mesmo por varejistas que não têm um orçamento muito grande.

“Hoje é possível encontrar ótimas ideias na internet e já ter uma noção de como elas podem funcionar online, como um braço adicional de exposição da marca.”

Coisas simples, como o uso de um adesivo com os endereços das redes sociais, são soluções baratas que dão um papel adicional à vitrine.

Para Rodrigo Palermo, consultor do Sebrae-SP, a tecnologia permite uma série de inovações para quem atua no varejo e depende do mostruário como chamariz para o seu negócio. Por exemplo, uma agência de viagens pode usar telas interativa­s para exibir vídeos de destinos, o que pode gerar interesse pela compra de um pacote.

“A vitrine é uma espécie de vendedor invisível, é a primeira abordagem junto ao cliente, por isso seu papel é tão importante. Se não há recursos para investir em tecnologia ou contratar um profission­al especializ­ado, uma boa olhada no que estão fazendo as grandes redes varejistas pode ajudar”, avalia.

O consultor do Sebrae lembra que muitos varejistas ainda pecam em detalhes fundamenta­is. “Não dá para ficar com uma lâmpada queimada, deixar mercadoria­s empoeirada­s ou manequins quebrados e não colocar o preço do produto, o que é obrigatóri­o por lei. Isso é básico”, afirma Palermo.

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