Por favor, lavem as mãos
SÃO PAULO - A Folha publicou na segunda (19/3) reportagem sobre estudo de Cristiano Berardo, da UFPE, que mostra que 88% dos aparelhos celulares que entraram em salas cirúrgicas de um hospital do Recife estavam contaminados com bactérias potencialmente patogênicas.
E celulares, vale lembrar, são apenas um dos itens por meio dos quais profissionais de saúde levam micróbios de um lado para o outro. O principal deles é o estetoscópio, mas também desempenham papel relevante jalecos, canetas, óculos, teclados e mouses. Menos lembradas, mas não menos perigosas, são as gravatas. Um estudo inglês de 2007 recomendou que médicos deixassem de usá-las. Ao contrário de jalecos, elas quase nunca são lavadas.
Objetos pertencentes às equipes, porém, raramente entram em contato direto com o paciente (a exceção é o esteto). Eles são um elo na cadeia de contaminação porque os profissionais os tocam com suas mãos e em seguida manipulam os doentes ou o material que será utilizado em procedimentos. O uso de luvas é importantíssimo, mas, ao contrário do que muitos (médicos inclusive) pensam, não constitui uma barreira totalmente eficaz contra a contaminação.
Isso nos leva à lavagem das mãos. Quando bem-feita, ela pode, em tese, evitar as infecções. Talvez seja irrealista esperar 100% de adesão às diretrizes para a boa higienização, mas —e esse é um dado assustador— a taxa de “compliance” raramente excede os 50% mesmo em hospitais de países desenvolvidos. Campanhas melhoram um pouco os índices, mas o seu efeito tende a ser transitório.
É impressionante que, 150 anos depois de o húngaro Ignaz Semmelweis (1818-65) ter demonstrado a importância de os médicos desinfetarem as mãos, grande parte dos profissionais da área não tenha incorporado a prática a suas rotinas. É a prova de que nossos vieses são mais fortes que a informação —e essa certamente não é uma boa notícia. helio@uol.com.br