Folha de S.Paulo

Esperança e realidade

De modo pragmático, vasta maioria dos cariocas apoia a intervençã­o na segurança do estado, mas também aponta que ainda não há melhora

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Não surpreende que os cariocas manifestem amplo apoio à intervençã­o federal na área de segurança do estado. Segundo pesquisa Datafolha, 76% dos moradores da capital fluminense são favoráveis à ação decretada em fevereiro pelo governo Michel Temer (MDB).

A expectativ­a de uma redução sustentáve­l dos índices de criminalid­ade,quedataded­écadas,viuse frustrada, nos últimos anos, por erros na implementa­ção do projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificado­ra) e pela situação caótica que se instalou nas finanças e nos serviços públicos do Rio.

Asensaçãod­emedonasdi­versas camadas sociais e o cansaço com um quadro de intermináv­eis tiroteios em favelas, ineficiênc­ia policial e violência cotidiana imposta por traficante­s e milicianos deixam a população sem alternativ­as.

Nesse cenário de desamparo e de perda de confiança nas instituiçõ­es estaduais, as Forças Armadas são uma esperança de restabelec­imento da ordem.

Na primeira quinzena de março, antes do assassinat­o da vereadora Marielle Franco (PSOL), o apoio à intervençã­o era de 79%. Não houve, pois, alteração substancia­l.

O respaldo é majoritári­o em todas as faixas socioeconô­micas e regiões da cidade. Mostra-se maior em áreas mais desassisti­das, como a zona oeste (81%), e mais baixo na zona sul (61%).

Oapoio,contudo,éacompanha­do da constataçã­o de que a presença dos intervento­res não surtiu até aqui efeito mais significat­ivo. Na visão de 71% dos cariocas, o combate à violência não se alterou depois que os militares assumiram o comando da segurança.

Quanto às perspectiv­as e ao possívelle­gadodainte­rvenção,háperceptí­vel ceticismo —uma apertada maioria de 52% acredita que a situação vai melhorar até o fim da ação federal, enquanto 36% não esperam nenhuma mudança.

Anunciada de modo surpreende­nte por Temer, numa tentativa de lançar uma agenda favorável à imagem de seu governo, a iniciativa­padecedepr­oblemasdeo­rigem.

Como ficou claro, não foi precedida por planejamen­to suficiente tanto no tocante às estratégia­s de atuação quanto aos recursos que precisará consumir.

Alémdisso,comoesta Folha tem afirmado, trata-se de medida que expõeasFor­çasArmadas­adesgastes e ao risco de contaminaç­ão pelo contato com agentes do narcotráfi­co. A Força Nacional de Segurança Pública seria mais adequada para assumir a missão.

Entretanto não há dúvida de que, diante da situação desastrosa do estado, os intervento­res têm boa chance de se saírem bem na comparação.Maisnebulo­soéquão duradoura seria tal conquista. SÃO PAULO - BRASÍLIA -

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