Civilização perdida
O que faz com que um país se torne civilizado? Teorias para explicar o grau de desenvolvimento de uma nação é o que não falta. Elas vão desde posições fatalistas, que incluem o desígnio divino e mesmo ideias racistas sobre a capacidade da população local, até teses conspiratórias que atribuem o atraso à exploração por potências estrangeiras.
Descartados esses raciocínios mais extravagantes, o que dá para dizer é que não sabemos bem. O processo civilizatório é um fenômeno multifatorial, para o qual contribuem diferentes famílias de causas.
Se desistirmos de estabelecer conexões causais e nos contentarmos com simples correlações, também dá para afirmar que o pacote que se convencionou chamar de desenvolvimento econômico inclui várias características civilizatórias. À medida que o país fica mais próspero, ele também se torna mais educado, menosviolento,maisdemocrático,mais livre,maisrespeitadordedireitoshumanos, menos discriminatório.
Não se trata de nenhuma lei de ferro, mas de uma tendência, para a qual sempre se podem apontar exceções. E, insisto, não sabemos o que é causa e o que é efeito nesse pacote.
Nesse contexto, é preocupante o relatório que o Banco Mundial divulgou neste mês sobre as perspectivas para o Brasil. O órgão não só lembra que nosso bônus demográfico se esgota agora em 2020 como mostra que, ao longo das duas últimas décadas, quase todo o desenvolvimento econômico que experimentamos se deu pelo aumento populacional e não por ganhos de produtividade.
Isso significa que, a menos que ocorra algo muito fora do roteiro, o Brasil, que terá uma proporção cada vez maior de aposentados para cada trabalhador na ativa, passará a ter muito mais dificuldade de crescer. Estamos, muito provavelmente, condenados a ser um país de renda média e um pouco menos civilizado do que teria sido possível. helio@uol.com.br