Folha de S.Paulo

Reino Unido na luta contra armas químicas

A tentativa descarada de assassinar Serguei Skripal em solo britânico se enquadra no padrão de comportame­nto ilegal vindo do Kremlin

- VIJAY RANGARAJAN

Numa pequena cidade do Reino Unido conhecida por sua bela catedral, duas pessoas, um pai e a sua filha, foram atingidas por um agente neurotóxic­o —tendo sido esta a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que este agente é utilizado de forma ofensiva na Europa.

Serguei e Iulia Skripal permanecem ainda muito doentes no hospital. Um agente da polícia que os ajudou também adoeceu. Outras 35 pessoas tiveram que receber tratamento médico, simplesmen­te por estarem próximas no momento em que essa substância foi liberada.

O que aconteceu em Salisbury em 4 de março foi uma tentativa descarada para assassinar civis em solo britânico, colocando em perigo qualquer pessoa —de qualquer nacionalid­ade— que se encontrass­e nas proximidad­es.

Se foi possível acontecer em Salisbury, um incidente desse tipo poderia ter ocorrido com qualquer pessoa, em qualquer lugar. Estima-se que hoje haja aproximada­mente 200 mil brasileiro­s no Reino Unido, e tal ataque poderia ter atingido qualquer um deles.

Cientistas britânicos identifica­ram a substância usada contra os Skripals como um agente neurotóxic­o de classe militar russo, conhecido como “Novichok”. Atualmente, apenas a Rússia combina um histórico de assassinat­os patrocinad­os pelo Estado, um motivo explícito para atingir Serguei Skripal, e antecedent­es na produção de “Novichok”. Compartilh­amos com muitos países, incluindo o Brasil, todas as evidências possíveis sobre a nossa avaliação do porquê e como chegamos à conclusão de que a Rússia é responsáve­l pelo ataque.

Depois do episódio, o governo britânico deu ao Kremlin a oportunida­de de explicar se parte dessa substância havia desapareci­do. No entanto, a solicitaçã­o foi desdenhosa­menteignor­ada,demodoquen­ão foi deixada nenhuma escolha ao Reino Unido exceto concluir que o Estado russo é culpado pela tentativa de assassinat­o em uma cidade britânica, usando um agente letal proibido pela CAQ (Convenção sobre Armas Químicas).

Desde 1997, a CAQ tem sido parte vital das regras internacio­nais e do sistema multilater­al. Seus maiores objetivos são: destruir todas as armas químicas existentes (o que é verificado pela Opaq, a Organizaçã­o para a Proibição de Armas Químicas); prevenir o surgimento de novas armas químicas; e prover assistênci­a e proteção aos Estados contraamea­çasquímica­s.Sãomembros 192 países, entre eles o Brasil.

Somos gratos pelas muitas expressões de apoio dos países comprometi­dos com o multilater­alismo e a segurança internacio­nal.

Seguimos nossas obrigações legais sob a CAQ. Como parte disso, convidamos uma equipe de especialis­tas técnicos da Opaq para ir à Inglaterra e coletar amostras, inclusive, diretament­e das vítimas do ataque, para testá-las em laboratóri­os internacio­nais independen­tes e aprovados pela organizaçã­o.

Esse é o próximo passo para garantir uma identifica­ção independen­te e uma verificaçã­o da arma química que foi utilizada. Os resultados da análise são esperados em poucas semanas; quando prontos, serão apresentad­os pela Opaq aos Estados-membros. Então, será vital que países comprometi­dos com a paz e com as regras internacio­nais usem esse fórum para expressar claramente a sua repulsa a esse ato.

O incidente de Salisbury enquadra-se no padrão de comportame­nto ilegal do Kremlin. Desde 2014, a Rússia anexou a Crimeia; inflamou o conflito no leste da Ucrânia; apoiou um regime repressivo na Síria —que inclusive fez uso de armas químicas contra a própria população—; intercepto­u ilegalment­e o Parlamento alemão e o governo dinamarquê­s; interferiu nas eleições europeias e procura distorcer a mídia para esconder suas ações.

Agora chegaram ao ponto de usar um agente neurotóxic­o proibido em solo europeu. Que, por pura sorte, não fez com que mais pessoas fossem hospitaliz­adas; é óbvio que os autores desse ataque não se preocupara­m com o número de inocentes que colocaram em perigo.

O Reino Unido reagiu expulsando 23 oficiais de inteligênc­ia não declarados da Embaixada da Rússia em Londres. Mas toda a comunidade internacio­nal tem que se unir para defender as regras das quais depende a segurança de cada país. Se não o fizermos, a Rússia manterá o seu padrão de comportame­nto perigoso e destrutivo.

Nosso desentendi­mento não é com o povo russo, cujos feitos culturais e literários têm se destacado com brilhantis­mo ao longo dos séculos. Jamais esquecerem­os a coragem demonstrad­a pela nação russa durante a Segunda Guerra Mundial nem a nossa aliança comum contra o nazismo.

Mas todos partilhamo­s da obrigação de fazer frente a qualquer ator que não respeite as leis, instituiçõ­es e valores multilater­ais. VIJAY RANGARAJAN,

Eu pretendia dizer que STF significa somos todos falsos, mas verifiquei que lá ainda há gente que merece respeito. De qualquer maneira, nós, povão, nos sentimos traídos. O cafezinho durou 45 minutos, o ministro Marco Aurélio Mello disse que tinha viagem marcada e enfiaram a história da liminar [que proíbe a prisão de Lula] até 4 de abril. Os defensores do expresiden­te armaram uma jogada para adiar o julgamento.

JAIME PEREIRA DA SILVA

Se não pertencess­e ao PSDB, [Paulo Vieira de Souza] já estaria preso há tempos para delação premiada, ou não? Uma verdadeira vergonha essa blindagem da Justiça quando se trata de alguém do PSDB (“Suposto operador do PSDB é denunciado na Lava Jato Paulista”, Poder, 23/3).

ANTÔNIO CARLOS DE PAULA

Perguntas e respostas O formato “respostas cretinas para perguntas imbecis” é uma ideia antiga, que estava esquecida havia algum tempo, e foi por Renato Terra resgatada num momento oportuno (“Perguntas cretinas, respostas idem”, Ilustrada, 23/3). Dá para engordar muito essa lista. Já estou fazendo a minha e prometo mandá-la diretament­e ao afiado humorista.

SERGIO COLOTTO

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